UMA VIDA NOVA

Menos de duas semanas depois da chegada de José António Camacho, o Benfica apresenta-se já inquestionavelmente com uma nova cara.
A equipa da Luz conseguiu esta semana duas importantes vitórias fora, levando já três partidas consecutivas sem sofrer golos – o que é notável tendo em conta que todos os centrais do plantel se têm mantido indisponíveis -, e dia após dia parece querer dar mostras de reagir a uma certa descrença que havia tomado conta, não só do grupo de trabalho, mas de todo o clube e sua envolvente.
Atirando para trás das costas todos os problemas da pré-temporada, Camacho terá conseguido limpar a cabeça dos atletas, aglutinando-os para uma espécie de vida nova, sem traumas, sem dramas, o que constitui desde já, objectivamente, a sua primeira grande vitória à frente dos encarnados. Um treinador de topo está longe de ser apenas um cientista de tácticas e estratégias de jogo. É antes de mais um líder, mas também um psicólogo, um gestor de emoções. Camacho não é um mago da táctica, mas respira liderança por todos os poros, para além de trazer futebol no sangue, injectado por uma carreira ao mais alto nível no Real Madrid e na selecção espanhola.
Chega a surpreender que o Benfica, depois de todas as convulsões por que passou o plantel, se tenha tão rapidamente tornado a equipa confiante, audaz, ganhadora que ontem quase goleou o Nacional no sempre difícil estádio da Choupana. Não fez uma exibição brilhante – nem isso seria de esperar -, mas jogou com alegria, com disponibilidade anímica, denotando uma auto-confiança que lhe andava arredia desde os melhores momentos da época passada. A vitória feliz de Copenhaga foi certamente um tónico muito forte – como aliás aqui referi na altura -, mas além desse aspecto há mais alguns motivos que explicam a rápida melhoria da equipa encarnada: desde logo a qualidade de alguns dos reforços agora integrados, nomeadamente Maxi Pereira e, sobretudo Di Maria.
O ala argentino, já depois de ter deixado um ou outro pormenor interessante na sua estreia, foi neste jogo o rosto da alegria do futebol benfiquista. A seu repertório técnico não engana, a sua velocidade impressiona – vinha de uma lesão muscular -, e caso melhore um pouco o timing da entrega da bola, bem como a capacidade de remate, pode tornar-se um caso muito sério na nossa Liga.
O uruguaio Maxi Pereira parece por outro lado um jogador capaz de preencher a ala direito do meio campo com arreganho e rigor posicional. Entra bem em diagonal, e pelo que ontem se viu estranha-se apenas o fraco pecúlio de golos que ostenta no seu currículo. É também reforço.
Além destes dois elementos, o Benfica contou mais uma vez com a eficácia da improvável dupla Katsouranis-Miguel Vítor no centro da defesa, com um Rui Costa decididamente apostado em demonstrar tudo aquilo que ainda tem para dar ao Benfica e ao futebol, e com os golos de Cardozo, que finalmente pôs a render os dez milhões de euros que custou o seu passe.
Este Benfica abandonou o losango e actua agora alternando 4-4-2 (no início das partidas) e 4-2-3-1 (depois de estar a ganhá-las), com Nuno Gomes a ser, quer segundo ponta de lança, quer médio de construção, e com Rui Costa a variar entre número dez clássico, e centrocampista de transição, poucos passos à frente de Petit. Di Maria assegurou com firmeza a ala esquerda e Maxi Pereira a direita. Este esboço começa a deixar antever uma equipa mais ofensiva, mais rápida nas transições, mais versátil, mais audaz e mais alegre. Ver-se-á se mais vitoriosa.
A pausa vem na melhor altura para o Benfica. Com alguns dos lesionados recuperados, mais umas semanas de treino e de integração dos reforços, o Benfica estará provavelmente, dentro de quinze dias, em condições de começar a escrever uma nova história da sua temporada. Falta saber até que ponto estes quatro pontos entregues à crise não farão falta lá mais à frente, pois (sobretudo) o F.C.Porto não parece na disposição de fazer muitas cedências.

6 comentários:

Anónimo disse...

Tão rápidos a propagar a crise como a cantar vitória, é assim o espírito benfiquista.

LF disse...

É verdade.
É uma particularidade benfiquista.
Duas vitórias e eis a euforia de novo instalada...

Camacho tem um espírito muito próprio. Um pouco como Scolari.
Nem são grandes estrategas da táctica (utilizam sistemas de jogo triviais e sempre iguais), mas têm uma personalidade fortíssima, muito carismática, e isso envolve toda a equipa, fazendo-a acreditar, e deixar a pele em campo.

Depois, não esqueçamos toda a importância da entrada na Liga dos Campeões, que ainda por cima, com uma equipa feita à pressa, sem centrais, e com um mísero 2-1 para defender, foi de algum modo inesperada e até heróica.

E além disso, há as boas indicações dadas por alguns reforços, que fazem renascer a esperança numa boa equipa e numa boa época.

Anónimo disse...

LF

A pouco e pouco, estão a aparecer os novos craques da Luz

Uma das coisas que estou agostar, para alem da "garra" e entreajuda imposta por Camacho, é o facto de os mais "velhos" estarem a ajudar os mais novos :

Rui Costa está sempre proximo de Freddy Adu e de Di Maria, sempre com indicações resultante da sua grande experiencia e do seu saber

Petit proximo de Romeu Ribeiro

Nuno Gomes de Cardozo e dos novos reforços do ataque

A entrada de Rui Costa, transformou a mentalidade dos jogadores com mais anos de Benfica, fez-lhe ver, que devem apoiar os mais novos, para bem de todos e em especial do Benfica, pois eles são o futuro do clube

Em relação ao jogo com o Nacional, retenho, o empenho, dedicação e vontade de ganhar, para alem da dinamica impósta por Camacho, a táctica pode ser simples, mas a dinamica é de campeão, a nova mentalidade dos jogadores e acima de tudo a confiança, vai relançar o Benfica, para as boas exibições e muitos golos

Quando, Luisão e David Luiz estiverem em condições fisicas, o Katsouranis terá de jogar no meio campo no lugar ocupado actualmente por Rui Costa, devendo este descair para o lado direito do meio campo

O Benfica, com exepção de Di Maria e Cardozo, esteve a reforçar o banco de suplentes, pois os titulares são praticamente os da época passada, quando estiverem todos disponiveis será qualquer coisa como :

Quim
----------
Nelson
Luisão
David Luiz
Léo
----------
Petit
Katsouranis
DiMaria
Rui Costa
-----------
Nuno Gomes
Cardozo

Agora o banco, terá mutas mais soluções e de valor

Eu acredito que vamos apanhar e passar o fc porto e sermos ainda este ano campeões

Isto promete :)

LF disse...

É possível que a equipa seja mais ou menos essa.
Mas gostei bastante da exibição de Maxi Pereira. Se ele jogar do lado direito não terá de haver adaptações.
Rui Costa, Nuno Gomes ou Katsouranis, um destes teria então de sair.
4-2-3-1 Sairia Nuno Gomes
4-4-2 Sairia um dos outros, sendo que Rui Costa fisicamente bem, é intocável.

Depois ainda há o Rodriguez, que também é capaz de entrar nas contas.

É preciso contar com lesões, castigos, baixas de forma, cansaço, taças da liga etc

Anónimo disse...

Não tive oportunidade de ver a primeira parte do jogo, no entanto daquilo que vi da segunda metade da partida agradou-me bastante. Um Benfica com garra, com vontade de vencer e com uma grande confiança que à muito não se via na equipa!

Quanto ao leque de opções à disposição de Camacho, penso que é grande e de qualidade, o que dará certamente para ir rodando os jogadores de modo a que não se verifiquem casos de extremo desgaste como na temporara passada, como por exemplo o caso de Katsouranis. Vamos ver o que o espanhol irá fazer, mas estou bastante confiante!

LF disse...

Sim. Pelo menos grande o plantel é.
Suponho que são 30 ou 31 jogadores.

As últimas aquisições deram-lhe algum equilíbrio.

Mas nada de euforias. O do Porto é bem melhor e mais equilibrado.