UMA TAÇA CHEIA DE JUSTIÇA

A conquista da Taça de Portugal pelo Sporting é um prémio que se ajusta na perfeição àquilo que foi a temporada da equipa de Paulo Bento. Mais do que pelo percurso que os leões fizeram até chegar a esta final – não podemos deixar de o relativizar, dadas as extremas facilidades concedidas pelo sortilégio de um calendário incomum – e até do que fizeram no jogo do Jamor – no qual imperou o equilíbrio, e o golo surgiu quando menos se esperava -, a conquista deste troféu recompensa a brilhante segunda volta que os leões realizaram na Liga, e premeia sobretudo uma filosofia de clube que, nomeadamente em termos de formação, é modelar para o desporto português.
Já há pelo menos duas temporadas que os leões justificavam festejar um troféu. Sobretudo desde que Paulo Bento assumiu a equipa (mas já antes com Peseiro) o Sporting tem ficado sempre muito perto da glória, sendo que por vezes apenas algum azar o impediu de a ela chegar. Desde a direcção, ponderada e eficaz, ao treinador, rigoroso e disciplinador, passado por uma equipa jovem e talentosa, e, porque não dizê-lo, de uma massa adepta genericamente mais correcta do que a dos principais rivais, tudo no Sporting tem sido encaminhado no sentido do sucesso, restando saber se em termos económico-financeiros o clube terá sustentação para no futuro responder às legítimas ambições agora edificadas - é natural que no próximo ano Benfica e Porto surjam bem mais fortes.
Por pouco o Sporting não festeja neste momento uma dobradinha histórica, sobre dois clubes com orçamentos substancialmente superiores, e com todas as condições intrínsecas para se superiorizarem aos leões - na Liga, o Sporting terá sido traído por alguma falta de ambição no jogo da Luz, em que tendo pela frente um Benfica rendido e mais à mercê que nunca, não teve coragem para arriscar uma vitória que, sabe-se agora, valeria o título. No último terço do campeonato o Sporting foi indiscutivelmente a equipa que melhor futebol praticou, que maior solidez revelou, e que, fica a ideia, talvez mais tivesse justificado o título.
Não podemos esquecer também, manda-o a lucidez, que quando comparada com a da concorrência, a temporada do Sporting fica indelevelmente marcada pelo precoce afastamento das competições europeias. O que seria este Sporting se tivesse permanecido envolvido, por exemplo, na Taça Uefa, onde o Benfica teve de realizar mais seis (!) jogos que os leões, facto agora, no momento das contas finais, absolutamente esquecido?
Seja como for, com o segundo lugar e a vitória na Taça, a época leonina não pode deixar de ser considerada um êxito, sobretudo tendo em conta que havia cinco anos que nada se festejava em Alvalade.
No Jamor o Belenenses foi um adversário à altura, equilibrando paulatinamente um jogo que começou sob tons de verde e branco. Nos momentos finais da partida os azuis chegaram mesmo a superiorizar-se aos leões, surgindo o golo de Liedson num momento em que se aguardava pelo prolongamento – e em que o Belenenses se encontrava reduzido a dez unidades, por lesão do seu lateral direito, justamente do lado onde surgiu o cruzamento de Miguel Veloso.
Acabou portanto por ser um desfecho algo cruel para a equipa de Jesus, à qual também assentaria na perfeição uma vitória nesta prova. É de salientar a enorme demonstração de vitalidade que este clube deu ao país, levando milhares e milhares ao Jamor, entre os quais muitos jovens, e mostrando estar dar passos claros ao encontro da sua brilhante história. Assim saiba e consiga manter a necessária estabilidade na sua estrutura.
Cai assim o pano sobre a época futebolística nacional, a qual merecerá oportunamente uma ampla análise neste espaço.
Por agora ficam os parabéns aos vencedores, e o regozijo por uma bela final dentro e fora do campo.

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