O TROFÉU QUE O BENFICA NUNCA VENCEU

Em terceiro lugar e sem depender de si próprio no Campeonato, afastado da Liga dos Campeões e agora também da Taça de Portugal, o Benfica tem na Taça Uefa uma importante porta de salvação para a sua temporada.
Trata-se de uma prova algo ofuscada pelo brilho da milionária Champions, mas que não deixa de ter algum prestígio no futebol internacional, mais a mais sabendo-se que as suas pontuações em termos de ranking valem tanto quanto as da sua irmã mais rica.
O Benfica tem ainda o estímulo adicional de estar perante uma competição que nunca conseguiu vencer, pelo que esta se trata, como aqui já disse em Dezembro passado, de uma aposta para levar bastante a sério.
Importa neste momento fazer uma breve resenha do historial dos encarnados nesta competição, que embora distante dos pergaminhos alcançados na Taça/Liga dos Campeões não deixa de ter alguns momentos altos.
Esta é a 14ª participação do clube na Uefa e o melhor resultado foi obtido em 1983 quando uma fantástica equipa - que englobava nomes como Bento, Humberto, Veloso, Pietra, Álvaro, Alves, Stromberg, Sheu, Carlos Manuel, Chalana, Nene, Filipovic e Diamantino, e cujo treinador era Sven Goran Eriksson, talvez a melhor equipa do Benfica dos últimos 30 anos - chegou à final, perdendo então para o Anderlecht (0-1 em Bruxelas e 1-1- na Luz) após uma campanha notável e que incluiu, por exemplo, vitórias em Roma e em Sevilha, e durante a qual o jugoslavo Filipovic brilhou a grande altura sagrando-se o melhor marcador da prova com 8 golos.
À excepção desta campanha só em mais uma ocasião os encarnados passaram dos oitavos de final. Foi em 1992-93, quando depois de levarem de vencida Belvedur, Vac e Dínamo de Moscovo, caíram aos pés da poderosa Juventus de Baggio, Vialli e Ravanelli, mau grado a vitória tangencial obtida na Luz (2-1 com dois golos de Paneira) em jogo que este vosso amigo presenciou. Em Turim, um golo logo nos primeiros instantes, a lesão do guardião Silvino, e uma serei de azares ditaram uma pesada derrota (0-3) que pôs fim às ambições de uma super-equipa na qual alinhavam Rui Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Futre, Mozer, Schwarz, Vítor Paneira, Isaías, Rui Águas, Veloso, Mostovoi, Yuran etc.
Por falar em derrotas pesadas, o momento mais negro do clube na Uefa e mesmo de toda a sua carreira internacional passou-se anos depois em Vigo, onde no dia em que fiz 30 anos (25 de Novembro de 1999) o Benfica foi copiosamente derrotado por 7-0. Foi uma jornada dramática, com os golos a sucederem-se na baliza de um desamparado Robert Enke, perante o desnorte completo de toda a restante equipa onde actuavam nomes como João Pinto, Nuno Gomes, Maniche ou o checo Poborsky.
Ao longo dos anos outras eliminatórias interessantes se disputaram, nomeadamente as que puseram os encarnados diante do Bayern de Munique nos oitavos de final de 1996 (na qual Jurgen Klinsmann arrasou com 4 golos lá e 3 cá), ou mais recentemente (2004) com o Inter de Milão, também nuns oitavos, nos quais após um empate a zero na Luz (em que também estive presente e que se disputou no dia do atentado de Madrid) o Benfica chegou a estar a vencer em San Ciro, acabando por perder por 4-3 depois de um jogo memorável.
Ao todo o Benfica disputou 68 jogos na Taça Uefa, contando 32 vitórias, 17 empates e 19 derrotas. Marcou 102 golos e sofreu 77. Curiosa é a lista dos goleadores benfiquistas na prova, que é comandada por…Nuno Gomes com 9 golos. Segue-se Filipovic com 8 (todos apontados na mesma época), Nené com 6, Eusébio com 5 (até 1978 o clube apenas tinha estado por uma vez na Uefa), tantos quantos conta Simão Sabrosa até ao momento. Outra curiosidade é a de este Dínamo de Bucareste ser o segundo clube que o Benfica repete na prova, depois de o ter eliminado em 1999/00, vencendo categoricamente em Bucareste por 2-0, após uma derrota na Luz (0-1) com um monumental frango de Enke numa noite de chuva diluviana – uma das maiores que apanhei em estádios de futebol.. A outra equipa a estar por duas vezes diante dos encarnados foi a Roma (1983 e 1991).
O último jogo do Benfica na Uefa teve lugar faz agora dois anos, quando o CSKA de Moscovo veio à Luz arrancar um empate a um que lhe valeu a passagem, vindo depois a sagrar-se campeão batendo o Sporting em Alvalade na final.

Amanhã o Benfica terá frente ao Dínamo a oportunidade de fazer as pazes com os seus associados, conseguindo uma exibição e sobretudo um resultado que lhe permitam encarar com optimismo a partida da Roménia. Esta equipa romena - onde figura por exemplo Nicolescu, o melhor marcador desta edição da Uefa - não sugere grandes facilidades, mas um Benfica ao seu melhor nível tem todas as condições de seguir em frente. Pede-se, exige-se, o Benfica das grandes noites europeias, o Benfica da Champions do ano transacto, pois se assim for não haverá Dínamo que resista.
Sem querer antecipar vitórias que estão ainda longe de se concretizarem, caso o Benfica ultrapassasse a equipa romena, e depois o Paris St.Germain ou o AEK Atenas, os quartos de final da prova poderiam, para além dos encarnados, conter nomes como Sevilha, Werder Bremen, CSKA Moscovo, Tottenham, Newcastle, Glasgow Rangers e Panathinaikos. Como se percebe, com um pouco da felicidade que faltou no ano passado no sorteio dos quartos (evitando os três primeiros nomes referidos), o Benfica até poderia fazer um brilharete europeu. Conquistar o troféu será bastante difícil, mas uma presença, por exemplo, nas meias-finais, já seria bastante positiva em termos financeiros, de prestígio e de ranking europeu.
Para já importa vencer e não sofrer golos. 2-0 seria perfeito.
Força Benfica !

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