SIMPLES E COM GELO

Quando se olha para a estatística de um jogo no qual uma equipa consegue inúmeros pontapés de canto e cruzamentos, mais posse de bola, domínio territorial e mais ataques, a tentação imediata é pensar-se que merecia a vitória. Mas o futebol não é assim.
A lei do futebol é sobretudo a lei da eficácia, e é justamente à sombra dessa evidência que se pode e deve dizer que a vitória do Benfica em Alvalade é de uma justiça cristalina.
É verdade que um golo aos 2 minutos de jogo condiciona de imediato a estratégia das equipas. Nesta partida esse golo teve ainda o condão de a influenciar em dois planos distintos. Por um lado evidenciou a imaturidade da maioria dos jogadores do Sporting, cujas pernas de imediato tremeram e a sofreguidão do ataque a qualquer preço acabou por dar ao adversário todos os trunfos de que precisava, e por outro lado permitir ao Benfica assumir a sua verdadeira natureza genética, de que aqui já falei diversas vezes, de equipa eminentemente de contra-ataque.
É verdade que o Sporting pressionou bastante durante os vinte minutos que antecederam o 0-2, mas também é verdade que nem mesmo nesse período conseguiu construir qualquer oportunidade de golo, algo que aliás apenas sucederia já na segunda parte. O Benfica fez então aquilo de que tanto gosta, aquilo que lhe deu um título nacional e lhe permitiu chegar aos quartos de final da Liga dos Campeões nas últimas épocas: recuar a equipa, esperar pelo bombear de bolas para a área às quais Luisão e (ontem também) Ricardo Rocha chamam um doce, e esperar sobretudo pela abertura de espaços no meio campo contrário, que jogadores rápidos, tecnicistas e incisivos como Miccoli, Nuno Assis, Nuno Gomes e Simão tão bem sabem aproveitar para criar perigo. O segundo golo encarnado, aquele que definitivamente matou e enterrou o jogo, acabou por ser o corolário de toda esta paisagem.
Até final da primeira parte foi o Benfica que esteve mais perto do 0-3 do que o Sporting de reduzir a contagem. Miccoli à barra, e Nuno Gomes isolado em frente de Ricardo desperdiçaram o golo que poderia ter até catapultado os encarnados para uma goleada histórica dado o desnorte que se apoderava dos imberbes jogadores sportinguistas, a mostrarem agora de forma cruelmente clara que ainda têm muito que pedalar até construirem uma verdadeira equipa de topo.
Na segunda parte o jogo praticamente não teve história, a não ser a escrita por Quim que com duas defesas extraordinárias negou o golo que poderia ter deixado ainda a porta aberta a uma recuperação leonina. As duas expulsões vieram já numa fase em que o Sporting se rendia resignado e o Benfica pensava em Manchester.
No plano táctico foi uma clara vitória da experiência de Fernando Santos – a colocação de Nuno Gomes no vértice do losango deu ao meio campo do Benfica uma muito maior consistência, e ao seu ataque uma maior verticalidade e fluidez – sobre a juventude de Paulo Bento, que tem ainda por demonstrar se o início de época fulgurante da sua jovem equipa não poderá dar lugar a uma hecatombe física no que resta de temporada. Não se entendem as opções Romagnoli e Bueno, com Carlos Martins e Djaló no banco, nem se entende a insistência nos cruzamentos bombeados para a área, com os quais o Benfica se sente bastante confortável.
Fica assim relançado o campeonato para as águias, que todavia não têm ainda grandes motivos para euforias, pois a distância para o F.C.Porto - cada vez mais o principal candidato à conquista do título – é ainda significativa.A arbitragem de Jorge Sousa foi regular, subsistindo a dúvida em dois lances dentro das duas áreas. Terá Simão travado Miguel Garcia a meio da primeira parte ? Terá Nani tido intenção de cortar a bola com o cotovelo na sequência do livre de Simão à beira do intervalo ? Fica o benefício da dúvida para o árbitro. Nas expulsões nada há a dizer a não ser que Polga deveria ter visto vermelho directo e não segundo amarelo.

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