SAHADICOS !

Por mais voltas que se dê ao texto, por mais boa ou má vontade que se tenha, por mais ou menos minúcia na análise, há um facto objectivo que não podemos escamotear e que constitui pano de fundo ao resultado de ontem: o Manchester United é melhor equipa que o Benfica.
Partindo desta premissa, atendendo aos orçamentos dos dois clubes e à sua história mais recente, não podemos deixar de considerar a derrota tangencial do Benfica como um resultado absolutamente normal – o jogo do passado ano é que constituiu uma surpresa -, pelo que não há que o dramatizar.
Todavia, este mesmo princípio axiomático conduz-nos a uma outra conclusão: o Benfica - grande em Portugal, mas de dimensão futebolística mediana a nivel internacional - não tem capacidade para jogar de igual para igual com este tipo de adversários, e a única forma de os vencer é assumindo humildemente essa limitação.
Quando Fernando Santos, no início da pré-época, disse à comunicação social que queria uma equipa dominadora e que desse espectáculo, como benfiquista torci o nariz. Há muito que deixei de acreditar em equipas dominadoras e espectaculares, com muita posse de bola e permanentemente instaladas no meio campo contrário, que o futebol de outros tempos - na sua idade da inocência - amplamente proporcionava. Estou em crer que hoje, à luz do futebol actual, uma equipa competitiva, ganhadora e eficaz só poderá ser simultaneamente "dominadora" caso disponha de intérpretes muito melhores que o adversário – como em termos internacionais será o caso, por exemplo, do Barcelona. De resto, o último Mundial deu-nos uma resposta cabal a esta questão, empurrando precocemente para casa justamente aqueles que apresentaram uma tipologia futebolística mais “dominadora”.
No futebol moderno existe um grande equilíbrio, sobretudo a nível físico, e o que acontece frequentemente quando uma equipa se instala no meio campo adversário – sobretudo se este se tratar de um conjunto de topo - é deparar com uma linha defensiva impenetrável, capaz de varrer o jogo aéreo e não permitir quaisquer espaços para a criação de lances de perigo. Pior do que isso, quem aborda o jogo dessa forma, abre necessariamente espaço nas suas costas que avançados rápidos, tecnicistas e eficazes não desdenharão aproveitar.
O futebol moderno está transformado num jogo de sombras, e quem pretende vencer deve ter a inteligência suficiente para o perceber e utilizar em seu proveito. Não é eventualmente o futebol que os adeptos gostariam que fosse mas é o que existe, e não se vislumbra, por agora, que possa evoluir noutro sentido. O Benfica na época passada ganhou ao Liverpool e a este mesmo Manchester jogando de forma calculista, esperando pelo adversário e pelo espaço atrás das suas costas para tentar criar perigo. Se fizermos uma resenha sobre as principais jogadas dos encarnados nos jogos mais determinantes da Liga dos Campeões de 2005-2006, verificamos que partiram, ou de lances de contra-ataque ou de bola parada, justamente as armas que uma equipa como a do Benfica tem condições de utilizar frente a adversários reconhecidamente superiores. Quando se dispõe do jogo aéreo de Luisão na defesa, e da velocidade e técnica de Simão e Nuno Gomes (particularmente talhados para o contra-ataque) na frente, e se defronta uma equipa britânica, não há como fugir a essa estratégia.
Terá sido este o pecado original do Benfica na noite de ontem.
Ao jogar “de peito feito” contra uma das equipas candidatas a vencer a prova, fazendo uma pressão alta muito intensa, detendo a posse da bola e instalando-se freneticamente no meio campo do adversário, o Benfica ficou condenado a sofrer um golo em contra-ataque, conforme veio a suceder. O empate não era no meu ponto de vista um mau resultado, pelo que um golo como o de Saha, num lance de contra-pé com ambos os laterais subidos, e em situação de igualdade numérica na rectaguarda, só se aceitaria se o Benfica se encontrasse nesse momento em desvantagem no marcador.
O Benfica - com dois extremos bem abertos nas alas, Petit como pivot defensivo, Katsouranis uns metros à sua frente e Karagounis com mais liberdade criativa - praticou na maior parte do tempo de jogo (até ao golo) um futebol alegre e honesto, os jogadores trabalharam muitíssimo, correram, lutaram, remataram, mas a sensação que fica é que, com um Manchester empenhado sobretudo em segurar o nulo, uma abordagem mais calculista ao jogo poderia ter rendido, pelo menos, um ponto aos encarnados da Luz. E é com pontos que se passa à segunda fase.
Os ingleses apresentaram um 4-3-3 muito pronunciado, com Scholes a fechar na esquerda o trio de que faziam parte Carrick e O’Shea (este por vezes ligeiramente mais recuado). Na frente Ronaldo pela direita e Rooney pela esquerda faziam linha com o avançado-centro Saha.
A verdade é que a equipa de Alex Ferguson deu desde muito cedo mostras de não estar disposto a arriscar muito, fechando a sua linha de meio campo e deixando a Ronaldo toda a responsabilidade no transporte de jogo para o meio campo contrário. A consequência prática disto foi uma equipa encolhida, com um ou outro pontual rasgo ofensivo, mas sem assustar muito a defensiva benfiquista.
Depois do golo, obtido num desses rasgos em contra-ataque, o Manchester impulsionado pela maior inspiração de Cristiano Ronaldo – firmemente empenhado em vingar o sucedido em Dezembro passado -, tomou então definitivamente o controlo do jogo (sem nunca o dominar), chegando bem mais perto do 0-2 do que de permitir uma igualdade na qual, sejamos sinceros, poucos dos quase sessenta mil presentes ainda acreditariam após o pontapé de Saha.
Em termos de futuro nada está perdido, e se atentarmos aos resultados da pretérita temporada verificamos que o Benfica também perdeu um jogo em casa (0-1 com o Villarreal), e não ganhou nenhum fora, obtendo ainda assim o apuramento. Conforme tenho defendido, serão os jogos com o Celtic a definir a passagem, sabendo-se agora que o Benfica terá, nesses dois jogos, de fazer um mínimo de quatro pontos caso queira continuar a sonhar (o ideal seria mesmo ganhar em Glasgow). Se assim não suceder restará lutar pela continuação na Taça Uefa, para a qual bastará, em princípio, vencer o Copenhaga em casa.
Nota final para o ambiente na Luz, que embora não tenha esgotado (ficaram uns cinco mil lugares por preencher), proporcionou um caloroso apoio à equipa, sobretudo até ao golo.
Dentro de três semanas prossegue a competição. Pode ser que até lá o Benfica estabilize, sobretudo sob o ponto de vista mental, e consiga dar um passo decisivo rumo aos oitavos-de-final.

FOTOS: www.marvermelho.blogspot.com ; www.slbenfica.pt ; www.record.pt

2 comentários:

Anónimo disse...

cito:
"há um facto objectivo que não podemos escamotear e que constitui pano de fundo ao resultado de ontem: o Manchester United é melhor equipa que o Benfica."

não é nada...

Anónimo disse...

Com ou sem ironia, essa foi de facto a razão da derrota.
Em 10 jogos que ambas as equipas façam, o Manchester vence 8.
Os clubes equilibram-se em palmarés, em historial, em massa adepta, no estádio, mas em termos meramente futebolisticos, tecnico-tacticos, no momento actual não há comparação possível .
Basta comparar os orçamentos...

Este foi o resultado normal e lógico. Tudo se decidirá com o Celtic.
Se o Benfica ganhar em Glasgow tem o caminho aberto.