UMA LARANJA A DESCASCAR
Ao contrário da ideia que tem sido criada na opinião pública, e apesar de ter consciência que a Argentina podia ser bem pior, não me parece que esta Holanda seja um adversário muito simpático para Portugal.
Além de todo o seu passado, que a levou a um título europeu, duas finais de campeonatos do mundo, e diversas meias finais de europeus e mundiais, esta nova “Laranja Mecânica”, embora longe dos tempos de Cruyff, é uma excelente equipa, muito bem articulada e recheada de grandes jogadores.
É verdade que num passado recente, nos enfrentamentos com Portugal, a Holanda não foi muito feliz. Ficou fora do último mundial, e foi afastada da final do último europeu pela nossa selecção. Mas também se tem de dizer que entretanto a equipa holandesa se renovou, e aparece neste mundial com uma movimentação e uma alegria de jogo muito superior à que exibiu nesses confrontos.
Esta Holanda é uma mescla de experiência – fornecida pelos cinco sobreviventes do onze derrotado em Alvalade, Erwin Van der Sar (guarda-redes, companheiro de Cristiano Ronaldo no Manchester United), Gio Van Bronkhorst (lateral esquerdo do Barcelona de Deco), Philip Cocu (médio do PSV e capitão de equipa), Arjen Robben (extremo esquerdo colega de Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Maniche no Chelsea de Mourinho) e Ruud Van Nistelrooy (ponta de lança também do Manchester) – com a juventude do jogadores como Snijder (médio do Ajax), Heitinga (lateral direito do mesmo clube) ou Van Persie (ala direito do Arsenal, onde nem sempre é titular). Nomes como Seedorf, Davids, Reiziger, Stam ou Makaay, parecem pertencer ao passado, e nem sequer estão na Alemanha entre os vinte e três escolhidos.
Na fase de qualificação esta nova Holanda teve um desempenho brilhante, sem derrotas e com poucos golos encaixados, o que criou uma expectativa enorme em redor do trabalho do seu novo técnico, Marco Van Basten - ele que foi inquestionavelmente um dos melhores pontas-de-lança do futebol europeu das últimas décadas. Já na fase final, nos dois primeiros jogos frente à Sérvia e à Costa do Marfim, mostrou, sobretudo nas primeiras partes, um futebol alegre, rápido e onde a utilização dos flancos surge como o elemento preponderante do processo ofensivo da equipa, o que não será alheio ao facto de os dois elementos em melhor forma do plantel holandês serem justamente Robben e Van Persie.
Tacticamente esta “Laranja” apresenta-se num 4-3-3 típico (o que se mantém desde o Euro-2004), com os dois alas bem abertos e um único ponta-de-lança bem metido ente os centrais. Van Nistelrooy apresenta-se nesta prova longe do seu melhor, e o facto de o jogo aéreo não ser o seu maior forte não deixa de ser uma boa notícia para Meira e Ricardo Carvalho. O trio de meio campo, ao contrário do de Portugal, contempla dois médios mais adiantados ( Van Bommel do Barcelona e o já referido Sneijder), embora mais combativos do que criativos, e apenas um nas suas costas (o veterano Cocu). No banco, como 12º jogador, Van Basten dispõe então de um centro-campista de maior fantasia, justamente Van der Vaart. A linha defensiva é composta por Heitinga e Van Bronkhorst nas faixas laterais, e a dupla Ooijer (um trintão do PSV) e Mathijssen (jovem do AZ Aalkmaar) no centro, surgindo Boulahrouz (Hamburgo) como alternativa preferencial.
Observando um jogo desta equipa, rapidamente se percebe que o trio de médios tem como principal tarefa a recuperação da posse de bola, enquanto que a fase de construção é assegurada pelos extremos, uma espécie de Portugal sem Deco. Robben e Van Persie (autores de dois dos três golos da Holanda neste mundial) são rápidos, extremamente habilidosos - sobretudo o homem do Chelsea que tem sido considerado como um dos melhores jogadores desta prova - e rematadores.
Pode-se afirmar que esta Holanda, ainda que mantenha alguns princípios de jogo extraídos da típica escola do país das tulipas, não privilegia tanto a posse de bola como o fazia noutros tempos. Nestes dois jogos (o encontro com a Argentina foi atípico), foi possível observar em vários momentos (sobretudo quando em vantagem) a equipa retraída, esperando pelo adversário para então aproveitar o espaço nas suas costas com lançamentos para os dois extremos. Falta verificar como se comporta esta formação em situações de desvantagem no marcador.
Creio que frente a Portugal a decisão do jogo passará muito pelo comportamento dos alas de um e outro lado. Figo e Ronaldo face a Van Bronkhorst e Heitinga , e por outro lado Robben e Van Persie frente a Miguel (ou Paulo Ferreira) e Nuno Valente.
Talvez fosse bom Portugal apostar preferencialmente no flanco esquerdo para as suas acções de ataque, fundamentalmente por dois motivos, por um lado a menor experiência de Heitinga, por outro, o facto de Robben ser bem mais perigoso que Van Persie, e como tal exigir-se um muito maior cuidado com as subidas do nosso lateral direito. Por isso mesmo, julgo que talvez fosse melhor apostar em Paulo Ferreira para este jogo, quer por ser menos audaz no plano ofensivo, garantindo assim uma melhor cobertura do seu corredor, quer por conhecer bem Robben, seu colega de equipa na Premier League.
Existem condições para um grande espectáculo, interpretado por equipas que jogam abertas nas alas, e que dispõem de jogadores tecnicamente bastante evoluídos. Será muito possivelmente o confronto mais equilibrado dos oitavos-de-final, pelo que não é de descartar a eventualidade de poder ser decidido nas grandes penalidades.
Cinquenta por cento para cada lado parece-me ser uma previsão adequada, ainda que os principais sites de apostas atribuam favoritismo à Holanda.
Será seguramente uma noite de grande sofrimento. Esperemos que no fim se possa assistir a uma gigantesca manifestação de alegria de um povo, bem necessitado de motivos para festejar. Desta vez é a valer, o adversário é forte, e o feito será histórico.
Ás armas !
Viva Portugal !
6 comentários:
3-0 é o meu palpite
Eu sou mais moderado. Acredito que passemos nos penaltis...
Bom palpite LF
Acredito que podemos passar e começar a demonstrar todo o potencial do nosso futebol
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