UM MUNDIAL ASSIM-ASSIM

Não está a ser um grande Campeonato do Mundo. Os jogos, de um modo geral, não têm tido muita emoção, o futebol jogado não tem sido brilhante e não tem havido surpresas.
Ainda é cedo para tirar conclusões definitivas a este respeito, mas se olharmos ao que se passou na Coreia e no Japão – onde se terá disputado o pior Mundial de sempre – teremos fundados motivos de preocupação quanto ao que resta de competição.
Numa prova desta natureza, jogada em final de época na Europa (onde jogam todos os melhores jogadores do mundo) e com as principais estrelas extremamente desgastadas, não se pode dizer que esta letargia seja de algum modo inesperada. Pelo contrário, tem sido nota dominante desde que o mundo do futebol se globalizou, a Liga dos Campeões da Uefa se tornou numa epopeia anual, com mais de uma dezena de jogos para os principais clubes envolvidos (os finalistas fazem catorze jogos, isto se não tiverem que passar pelas pré-eliminatórias, ao que terão de acrescentar trinta e oito nalgumas ligas nacionais, mais seis ou sete nas taças, outros tantos nas selecções, fora particulares), que por sua vez monopolizam nos seus planteis todos os grandes craques agora distribuídos pelas várias selecções.
Se esta tendência se continuar a verificar algo terá que ser feito. Ou a Fifa altera a calendarização do Mundial - colocando-o eventualmente a meio da temporada europeia -, ou serão os campeonatos nacionais e europeus a ter que rever a inusitada quantidade de jogos que se disputam ao longo do ano, e que por vezes até os adeptos cansam.
Deixando de lado estas burocracias, e olhando para o lado meio cheio do copo, pode-se dizer que ontem até terá sido o melhor dia desde que a competição teve início. Três belos jogos, e exibições promissoras de Austrália, República Checa e Itália, com bons momentos também do Gana (que conta com um fabuloso meio-campo onde se juntam Essien, Muntari e Appiah).
República Checa e Itália terão sido mesmo, de entre os candidatos ao título, as equipas que mais impressionaram até ao momento. Os checos, apesar do infortúnio de Koller (depois de marcar um golão, saiu lesionado e não deve jogar mais no Mundial), demonstraram o mesmo futebol alegre e dinâmico com que encantaram no Euro-2004, e derrotaram com facilidade uns Estados Unidos em processo de ascensão na hierarquia do futebol internacional (pretendem ser campeões do mundo dentro de oito anos). Mostraram ainda um Rosicki em grande forma, um Nedved perto do seu nível e um Poborski ainda capaz de desequilibrar, além de uma linha defensiva extremamente segura, comandada por Ujfalusi, com Grygera na direita a mostrar uma insaciável e profícua tendência atacante.
A selecção transalpina, como que querendo afastar os fantasmas resultantes de uma conjuntura calamitosa no seu país futebolístico, deu uma lição de futebol moderno, aliando ao seu tradicionalmente bem conseguido processo defensivo, alicerçado numa das melhores duplas de centrais da actualidade (Nesta e Cannavaro), a capacidade de se desenvolver ofensiva e defensivamente em transições rápidas e eficazes, com as quais conseguiu construir várias ocasiões claras de golo ainda que com menos tempo de posse de bola que o adversário - também eles uma equipa bem interessante de se seguir - e dando por vezes a sensação de ser por ele dominada. As bases do futebol assentam em cinco parâmetros fundamentais: processo ofensivo, processo defensivo, transição defesa-ataque, transição ataque-defesa e bolas paradas. Destes parâmetros, os italianos dominam na perfeição quatro deles, desprezando um pouco a capacidade de construir lances de perigo em processo ofensivo puro, o que frequentemente cria a ilusão de estarem a jogar mal. Os resultados encarregam-se normalmente de afirmar o contrário. Uma equipa a seguir com atenção, até porque estrelas não lhe faltam, nomeadamente no ataque onde juntam Totti, Del Piero, Gilardino, Toni, Iaquinta e Inzaghi (!!!).
De resto - e ainda antes de Brasil, França e Espanha entrarem em acção - também deixaram boa imagem a Argentina e a Holanda.
A equipa de Pekerman, com um modelo de 3-4-1-2 muito bem articulado, e com Riquelme e Saviola bastante inspirados, venceu a Costa do Marfim de Drogba com toda a justiça, ainda que também com algum (desnecessário) sofrimento nos instantes finais. Que pena não ter jogado Leo Messi, que poderá dentro de alguns anos suceder a Ronaldinho Gaúcho no trono do futebol mundial.
Os holandeses beneficiaram de uma super-exibição do extremo do Chelsea Arjen Robben, que jogou e fez jogar, marcando o único golo da partida, sendo até agora talvez o jogador que mais se destacou individualmente no Mundial.
Vamos esperar pelos jogos que faltam da primeira jornada e pelas próximas jornadas (ainda não vimos Ronaldinho, Ronaldo, Kaká, Adriano, Henry, Zidane, Schevchenko, Raul nem...Deco, Messi, Ballack ou Rooney, entre outros ), para saber até que ponto o bom futebol poderá ainda visitar em abundância a Alemanha neste verão.
Hoje entram em acção possivelmente os dois melhores jogadores do mundo da actualidade: Ronaldinho e Henry. Também estou bastante curioso de ver até que ponto vai a boa forma de Kaká, que se diz poder ser o rei desta competição, bem como de averiguar se Zidane será ou não capaz de uma despedida ao nível daquilo que foram os melhores momentos da sua extraordinária carreira.
Estas são algumas notas de esperança em que possamos vir a ter um torneio mais espectacular do que os primeiros jogos deixaram antever.

PS 1:Ao insistir em árbitros de países onde o futebol tem pouca expressão, e como tal pouco tarimbados em jogos de alto nível, a Fifa continua a brincar com o fogo.
Ao contrário do que se tem dito, não me parece que as arbitragens tenham estado até agora muito bem. Um golo da Argentina que ficou por validar, grandes penalidades escamoteadas ao Gana e ao Equador, um golo irregular do Japão mal validado, alguns foras-de-jogo mal assinalados, expulsões perdoadas, entre outros erros com maior ou menor gravidade, tudo em apenas quatro dias, faz temer uma repetição do que de pior se passou na Coreia.
Os próximos dias poderão dizer se se trata de um receio infundado ou não, mas parece-me que enquanto não forem os melhores árbitros (da Europa, Brasil e Argentina) a arbitrar os jogos, os riscos de uma deturpação completa da verdade desportiva manter-se-ão de pé.

PS 2: Não é muito importante mas não deixa de ser uma nota negativa para a Fifa. Ao contrário da Uefa, sempre preocupada e cuidadosa com os aspectos plásticos do espectáculo (veja-se o magnífico hino da Champions League, e toda a iconografia criada em redor da competição máxima de clubes), a Fifa não reservou para este torneio nenhuma surpresa estética aos adeptos mais meticulosos (nos quais me incluo). As balizas são exactamente iguais às do Coreia-Japão (horríveis, principalmente se comparadas com as lindíssimas balizas do Euro-2004, com rede fina em preto, que provocava um efeito estético impressionante quando as bonitas bolas “Roteiro” cinzentas as beijavam), o corte dos relvados não é nada inovador, a decoração dos estádios tem umas cores que chocam com a cor da relva, e mesmo a realização televisiva (aqui as responsabilidades terão que ser divididas) não parece até agora ser muito rigorosa e ainda menos criativa. São aspectos laterais mas que implicam uma maior ou menor espectacularidade para quem assiste aos jogos, e estranha-se que a Fifa aparentemente os despreze.

2 comentários:

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