CAÇADORES DE PERDIZES
Sou leitor regular de “A Bola” que aliás considero, sem favor, o melhor jornal desportivo do país. Habituei-me desde criança a ler (e por vezes reler) os extraordinários textos de senhores do jornalismo desportivo como Vítor Santos, Carlos Pinhão, Alfredo Farinha, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, João Alves da Costa, entre outros, com os quais fui sedimentando a minha paixão pelo futebol e pelo desporto em geral, num tempo em que as imagens televisivas pouco passavam de alguns minutos de resumo do principal jogo da semana.
Com o tempo, mais mudança menos mudança, “A Bola” foi mantendo uma qualidade que faz dela, ainda hoje, a referência máxima do jornalismo desportivo no nosso país.
Às terças, quartas e quintas, este jornal atribui uma coluna a conhecidos jornalistas externos à redacção, e mediáticos adeptos de F.C.Porto, Sporting e Benfica, respectivamente Miguel Sousa Tavares, José António Lima e Leonor Pinhão. A ideia é boa, os jornalistas são bons, e todos eles acompanham razoavelmente o fenómeno futebolístico. Todavia, exceptuando o caso de José António Lima, fanatizado adepto do Sporting (ou será mais anti-Benfica ?), os dois restantes têm dado nos últimos tempos alguns sinais de que talvez não estejam a escrever no local certo.
Esta semana Miguel Sousa Tavares proclama, num dos seus inflamados artigos anti-selecção nacional e anti-Scolari, que a selecção nacional “não lhe desperta o espírito patriótico”, e que o patriotismo para ele é “fazer algo pelo país e pagar impostos”.
A dúvida que se impõe desde logo é o que é que Miguel Sousa Tavares já terá feito de relevante pelo país, para a qual eu não tenho, com franqueza, resposta.
Quanto aos impostos, não sabendo se Sousa Tavares os paga ou não, há certamente milhões de portugueses que, a eles não podendo fugir, não se sentirão particularmente patriotas por esse motivo.
A mesma figura, filho de gente muito importante diga-se (muito mais importante que ele e, esses sim, tendo feito algo pelo país), afirmava há umas semanas atrás que trocava qualquer jogo de futebol por uma caçada de perdizes. O que há de errado nesta afirmação ?
Não haveria nada se a mesma fosse feita noutro jornal e noutro espaço. Numa crónica sobre futebol, onde é suposto assumir a paixão pelo jogo e pelas suas cores, a vontade com que o leitor fica é fechar de imediato o jornal.
Cada pessoa é livre de preferir os passatempos que muito bem quiser e mais gostar, mas a quem escreve num diário desportivo, supostamente sobre futebol, e de certo modo representando os adeptos do seu clube, procurando personificar a paixão futebolística, não assenta bem dizer que prefere caçar perdizes do que ver um qualquer jogo de futebol (entende-se que mesmo uma final de um mundial ficaria para segundo plano), até porque não sendo coisas comparáveis, a afirmação, por desnecessária, acaba por revelar implicitamente que o seu autor, no fundo e de certa forma, despreza o futebol, ou pelo menos considera-o menor.
Se houvesse dúvidas, voltando ao texto desta semana, o jornalista diz ainda que sente muito maior orgulho em Maria João Pires ou António Damásio do que em Cristiano Ronaldo ou Figo. Pois bem, eu por exemplo sinto o mesmo orgulho em todos eles (cada um tem o seu talento e é bom na sua actividade), e ainda acrescentaria o conterrâneo de Sousa Tavares, Manoel de Oliveira, ou o nosso “nobel” José Saramago, entre muitas outras figuras que prestigiam o nosso país no mundo. Mas uma coisa reconheço, e Sousa Tavares também deveria reconhecer, é que Cristiano Ronaldo e Figo (como o seu amigo Mourinho) são muito mais conhecidos em todo o globo - e assim acabam por difundir muito mais a imagem de Portugal - do que os exemplos que ele apresentou, sem que isso lhes belisque minimamente todo o mérito que têm.
Leonor Pinhão é outro caso semelhante, embora não tão reiterado. Há umas semanas confessava que tinha deixado de assistir (mesmo pela TV) a um importante jogo do seu clube, pois nesse dia tinha ido, simplesmente, jantar fora.
O Benfica tem milhões de adeptos, e muitos deles fariam a mesma coisa (“que se lixe o Benfica por uma boa jantarada...”), só que esses não escrevem num jornal desportivo em representação do seu clube, e se assim fosse, seguramente que não se lembrariam de dizer tal coisa aos outros, ou seja, àqueles que procuram nessas páginas um eco da sua voz clubista, que fazem importantes sacrifícios monetários por bilhetes, cativos e viagens, que largam a família ao fim de semana e são capazes de dormir nas bilheteiras para acompanharem o seu clube. Esses sim são os verdadeiros adeptos do futebol, e eles não merecem ver a sua paixão tratada com tanto desdém por que os devia, supostamente, representar.
Fica o reparo.
12 comentários:
Pois é, o Sr. Miguel Sousa Tavares, qualquer dia morde a lingua e morre, devido ao seu veneno
Este Sr., pensa que é o dono da verdade, que é o unico iluminado deste País, está tudo mal para ele
Neste momento os "Pseudo-intlectuais" e "os politicos" do nosso País, têm um grave problema, passaram para segundo plano, nas aberturas das noticias das TVs, em primeiro lugar aparece o anónimo povo Português, em festa com a selecção representativa de Portugal, este desporto junta elementos da Direita e da Esquerda, demostra o orgulho Nacional, que nenhum partido Politico consegue, teve de vir um brasileiro, elevar a estima de Portugal
É logico, que essas pessoas, venham agora tentar chamar á atenção e dizer que o futebol e as pessoas que acompanham este desporto, são a ralé da nossa sociedade, que são infantis, que o futebol é coisa de pouca importância, o Sr. Pacheco Pereira, perguntava, visivelmente perturbado, o porque de as TVs, abriam as noticias com futebol, e não com a politica, o jornalista tentava dizer, que era o que o povo queria, mas mesmo assim não estava convencido
Todos esses artigos, só servem para uma coisa, CHAMAR A ATENÇÃO
É válida a sua opinião. Felizmente cada um tem a sua.
Nas livrarias de Roma o romance de Miguel Sousa Tavares, Equador, era considerado o melhor romance do ano.
Viva o Desporto, viva o Futebol!
Golo de Letra
As pessoas só têm a importância que nós lhes damos e esses dois espécimes para mim não têm nenhuma importância.
www.pontapedebaliza.blogspot.com
futebol é apenas futebol.
e os desgraçados que vão dormir nas filas para comprarem bilhetes deviam ser internados para averiguar da sanidade mental.
mas quem recebe ordenado para comentar e não tem respeito pelos que os leiem têm que repensar a profissão.
É verdade cj, futebol é apenas futebol.
Mas cinema também é apenas cinema, e música também é apenas música, ou não será ?
Eu conheço-te e sei bem que serias incapaz de passar, umas horas que fosse, numa bilheteira para o futebol. Já o mesmo não poderei garantir se se tratar de um bom concerto.
Eu, não só sou capaz de uma e outra coisas, como já o fiz (entre outras como passar um domingo de sala de cinema para sala de cinema).
Não seria era capaz de caçar perdizes, algo de onde não retiraria o mínimo prazer, ainda mais se me levantasse de madrugada para o fazer.
Enfim...
Cada um gosta do que gosta, e isso é perfeitamente normal.
O que eu aponto é que, numa crónica sobre futebol, onde é suposto personificar o adepto dum clube, se afirme directa ou indirectamente que se está nas tintas para aquilo.
Eu, como benfiquista e leitor de A Bola, senti-me de certo modo chocado ao ler Leonor Pinhão, que eu tinha por uma adepta ferrenha do Glorioso, e que escrevia ali nessa estrita qualidade, dizer que tinha trocado um jogo importante do Benfica por um jantar fora (algo que a mim, confesso-o, não passaria pela cabeça).
Não critico que o tivesse feito, mas sim que o afirmasse naquele espaço. Não sei se me estarei a explicar bem.
Respondendo ao Golo de Letra, digo que não quis de forma alguma beliscar Miguel Sousa Tavares, com quem por vezes até estou de acordo em muito do que escreve.
Acho-o aliás um excelente jornalista, e recordo com saudade as magníficas entrevistas televisivas que fazia há uns anos atrás.
Apenas critiquei aquilo que ele escreveu, ou melhor, o espaço onde o escreveu, estando ali na qualidade de adepto do futebol. Se tivesse dito aquilo num artigo de opinião no "Público" eu nada teria a opôr.
Relativamente ao Kaluxas e ao Marcio, apenas direi que estou há algum tempo a pensar fazer um post sobre aquilo que o futebol representa face à sociedade de hoje (ainda não sei se no Vedeta da Bola se no Fumo-sem-Fogo), e á forma como alguns intelectuais insistem em desprezá-lo como algo menor.
Na minha opinião o futebol é um espectáculo que nada deve por exemplo a um bailado. Pois se este pode conter em si elementos estéticos apelando a valores humanos como a beleza, o amor, a virtude, a honra, o futebol também tem os seus valores como a coragem, a lealdade, o companheirismo, a salutar competição, o desejo de superação etc, sem contar com a afirmação de identidades nacionais e regionais, outrora bem definidas e entretanto esbatidas pelo processo de globalização que o mundo tem vivido.
É claro que em certas alturas (e estamos a viver uma delas), o futebol aparece demasiado mediatizado, fruto das guerras de audiências e do facto de ser um fenómeno extremamente apelativo, para todas as idades e , cada vez mais, para ambos os sexos. Mas só vê quem quer, e não nos podemos esquecer que a transmissão de jogos tem decaído imenso nos canais generalistas desde que foi criada a Sport Tv.
Eu compreendo perfeitamente a Leonor. Qual é o interesse de ver os jogos do Benfica?
Otragal,
Sempre com esse mau feitio...
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