SONATA EM "RO" MAIOR

Embora já sem equipas portuguesas em prova, a Liga dos Campeões continua a ser um deslumbrante espectáculo para quem gosta de futebol. Tal tivemos oportunidade de comprovar ainda ontem, tanto sobre o relvado como, segundo se percebia, nas bancadas do mítico San Siro.
Naquela que era considerada a final antecipada, o carrasco do Benfica demonstrou uma vez mais que neste momento não tem rival no futebol europeu. Depois de uma primeira parte equilibrada em que as melhores oportunidades até foram dos transalpinos, o Barça arrancou para um segundo tempo de altíssimo nível, durante a qual foi capaz, em certos momentos, de vulgarizar o Milan na sua própria casa, à semelhança do que já havia feito esta temporada em Stanford Bridge, em Chamartin e na generalidade dos estádios por onde foi passeando a sua enorme classe.
Para além dos seus brilhantes artistas, este Barcelona de Frank Rijkaard tem também um modelo de jogo extraordinariamente bem articulado, com uma defesa rápida e segura, um meio campo sólido, robusto, pressionante e criativo (Van Bommel e Iniesta estão-se a revelar craques de primeira água), e um ataque eficaz e esmagador. Se nos recordarmos que ontem estava desfalcado de Deco, Messi, Larsson e Xavi, todos impedidos de jogar, verificamos o quanto este Barcelona vale, tendo tudo para poder fazer história no futebol europeu.
Durante o melhor período dos catalães, no qual a sua perfeita e sumptuosa circulação de bola colocou o adversário à beira da humilhação absoluta, dei comigo a vasculhar a memória, questionando-me que equipas teria visto jogar com tamanha qualidade. Não sou do tempo do Ajax de Cruyff e, deixando de lado selecções nacionais, as únicas formações que me consegui lembrar foram o Liverpool de Dalglish, Souness e Rush, e depois o Milan, o próprio Milan, de Van Basten, Gullit, Ancellotti e...Rijkaard.
Como qualquer orquestra de qualidade, esta também tem um grande maestro. Ronaldinho Gaúcho até começou o jogo de forma algo intermitente, mas na segunda parte abriu o livro, e que livro !
Se este Barça é das melhores equipas que me lembro de ver jogar, Ronaldinho, não tenho dúvidas, é o maior jogador do mundo desde Diego Maradona. O seu passe para o único golo do jogo é uma delícia, o lance em que remata ao poste um regalo. Vale bem a pena pagar um bilhete só para ver este homem jogar futebol, para apreciar o seu toque de bola, os seus dribles, os seus passes, a sua arte e todo um repertório de magia só ao alcance de verdadeiros deuses dos relvados, como Pelé ou o já referido Dieguito. O próximo mundial promete.
Por fim, gostaria de salientar o quão reconfortante é pensar que o Benfica conseguiu impor um empate a este colossal conjunto e discutir com ele a eliminatória até aos últimos instantes do segundo jogo, algo de que nem Chelsea, nem ao que parece o Milan, se poderão gabar. Quem pedia uma postura mais afirmativa aos encarnados nessa eliminatória, deve agora reflectir sobre a injustiça de tal grau de exigência perante tão poderoso opositor.

2 comentários:

Anónimo disse...

Só o Arsenal nos poderá vingar...

Anónimo disse...

Ganda post, LF !!!
Quase que fazes literatura com isto :)))