SEM SAL

Não fosse o facto de o primeiro lugar estar suspenso por dois pontos, e a luta pela manutenção estar ao rubro, bem se poderia dizer que este campeonato estava a ser uma verdadeira caravana da pobreza.
Há três jornadas que os três grandes não sofrem um único golo.
Fruto de exibições convincentes ? Não !
Os grandes não têm sofrido golos, nem praticamente perdido pontos, devido a um decréscimo generalizado da qualidade dos seus opositores, sobretudo se compararmos com o que aconteceu na pretérita temporada.
Quem não se recorda do excelente Penafiel da época transacta, com Wesley, N’Doye, Sidney e Marcelino; ou do Rio Ave de Ricardo Nascimento, Paulo César e Franco treinado por Carlos Brito; e o Vitória de Setúbal de José Couceiro, com Jorginho, Manuel José, Meyong, Hugo Alcântara, Moretto e Moraes; ou o Vitória de Guimarães de Manuel Machado e César Peixoto, Silva, Marco Ferreira e Targino; ou ainda de uma Académica defensivamente quase impenetrável; de um Boavista candidato ao título até a poucas jornadas do fim, com Nelson e Hugo Almeida entre outros; de um Braga com Abel, Nunes, Jorge Luiz, João Alves e Jaime, muito mais forte que o de hoje; de um União de Leiria mais afirmativo; de um Marítimo incomparavelmente melhor ; de um Gil Vicente perigoso; de um Belenenses muito mais tranquilo ?
O que se terá passado da época anterior para esta não foi, portanto, uma melhoria dos clubes grandes, mas sim, claramente, um decréscimo generalizado da qualidade de quase todas as restantes equipas.
Mesmo nos grandes, é de notar que perderam (eles e o futebol português) em poucos meses jogadores como Jorge Costa, Nuno Valente, Seitaridis, Derlei, Carlos Alberto, Costinha, Maniche, Helder Postiga, Beto, Enakahrire, Rui Jorge, Pedro Barbosa, Rochenback, Hugo Viana, Pinilla e Miguel. Quem chegou de qualidade semelhante? À excepção de Lucho Gonzalez , e alguns dos reforços do Benfica (cujo efeito se tem notado mais a nível internacional do que na nossa liga), quase ninguém.
O resultado de tudo isto é termos passado de um campeonato espectacular, o da época passada, com incerteza até ao último minuto do último jogo, com sete comandantes desde o seu início, alguns grandes espectáculos de futebol, muitas surpresas e momentos de grande exuberância de quase todos os clubes, para uma liga sem sal, com uma média de golos substancialmente inferior e com dois terços das equipas a lutarem unicamente para não descer. Será isto o nivelamento por baixo ?
Bem se pode dizer que o Sporting está mais coeso, e é verdade, mas não podemos esquecer que na época passada foi finalista europeu, a duas jornadas do fim era lider da liga e teve momentos que os seus adeptos chegaram a considerar como os melhores do seu historial (lembram-se das exibições no Bessa, em Braga, em Guimarães etc). O F.C.Porto foi campeão do mundo durante a época passada, e mau grado toda a irregularidade, sobretudo nos jogos em casa, tenho para mim que tinha um plantel, ainda recheado de campeões europeus, bem superior ao deste ano (sobre a sua qualidade de jogo, quem melhor que os seus adeptos para se pronunciarem ?).
Os jogos de domingo, sobretudo a segunda parte do Sporting-Penafiel (nos tempos de Peseiro teria valido lenços brancos...), foram de uma pobreza lastimável, e inserem-se nesta triste tendência que a liga portuguesa tem apresentado, sobretudo na segunda volta, depois de Braga e Nacional terem perdido o fólego com que chegaram a ameaçar os primeiros lugares. Sobraram os excelentes golos de Nani, João Alves e Hugo Almeida, e evidentemente os três pontos para os seus clubes.
Se o motivo das exibições descoloridas dos dois primeiros teve origem no desgaste do jogo da taça, é caso para questionar o que seria esta liga se F.C.Porto e Sporting acompanhassem o Benfica nas provas europeias.
Desinvestimento económico generalizado, fantasma da descida (pairando sobre quase todos os jogos), desgaste europeu (no caso do Benfica), ou outra qualquer justificação, o essencial é que esta liga está insossa, e cada vez é menos expectável que o panorama se venha a alterar.

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