SOFRER COMO SEMPRE, LUTAR COMO NUNCA
Desde o pontapé inicial se percebeu que os encarnados encararam esta partida de forma extremamente séria, e entenderam que um mau resultado deitaria irremediavelmente por terra as suas ambições quanto à conquista do título. Deveria ser sempre assim, mas a verdade é que a equipa de Quique Flores tem muitas vezes deixado a sensação de poder fazer mais pela sua vida e pelos seus resultados. Hoje isso não aconteceu e, particularmente nos últimos minutos, viu-se um conjunto de dez jogadores, não necessariamente a jogar bem, mas firmemente empenhados em deixar a vida em campo pela vitória. Quando assim é, normalmente ganha-se. Mesmo jogando mal.
É verdade que o auto-golo, ainda na primeira parte, ajudou bastante. Mas até aí já o Benfica justificava a vantagem, e logo a seguir podia mesmo tê-la ampliado. O resultado ao intervalo era inteiramente justo.
Depois de uma boa reentrada do onze de José Mota, o golo de Nuno Gomes, a meio do segundo período, parecia ter decidido tudo. O Benfica estava como queria, podia baixar o bloco e esperar pelos espaços nas costas da defesa leixonense para inclusivamente aumentar a vantagem e assim conseguir uma vitória tranquila. Mas chegou o minuto 75.
Em poucos segundos o Benfica perde Carlos Martins (recorde-se que já não tinha Yebda nem Ruben Amorim), e vê o Leixões reduzir a distância, após um ressalto infeliz dentro da área. Com tanto tempo ainda para jogar, o Estádio da Luz entrou em pânico, até por exemplos difíceis de esquecer em situações bem mais favoráveis.
Com apenas dez jogadores, com um desequilíbrio táctico assustador, os jogadores do Benfica apelaram ao querer, à vontade de vencer e à alma benfiquista, que há algum tempo parecia esquecida. Aimar fez de trinco, Nuno Gomes de ala-esquerda, o improvável Balboa tinha que assegurar o flanco direito, Cardozo assumiu todo o ataque, e fosse o que Deus quisesse. A verdade é que o tempo foi passando, quase sempre com o credo na boca, mas sem sobressaltos de maior junto da baliza de Moreira. O apito final soou - como quase sempre na Luz esta temporada - como um enorme suspiro de alívio.Em todos os jogos do campeonato que o Benfica disputou em casa, só ao Sporting venceu por mais de um golo. Mas nas condições em que foi obtida, perante um opositor que ganhara no Dragão, em Alvalade e em Braga, bem se pode dizer que esta foi uma das mais saborosas vitórias do Benfica nos últimos meses.Lucílio Baptista cometeu alguns erros, mas não teve influência no resultado.










Perder em Alvalade por um resultado tangencial não deslustra ninguém, mas olhando àquilo que se passou em campo, há que dizer que o 3-2 de ontem é enganador e peca por defeito.
Não é ao acaso que falo desde já na próxima época. O resultado de ontem, por muito que discurso de Quique Flores o possa contrariar (e tem, obviamente, de o fazer), pôs o Benfica numa posição muito delicada para fazer face a uma luta onde chegou a dispor de todas as vantagens. Quem conhece o futebol português sabe que, com de quatro pontos de avanço a doze jogos do fim, dificilmente o F.C.Porto deixa fugir um campeonato.





Tal como já ocorrera na Mata Real, Benfica e Paços de Ferreira voltaram a oferecer um magnífico espectáculo, recheado de dramatismo, emoção, futebol e grandes golos.
É claro que para o espectador, uma vitória conseguida nas circunstâncias da de ontem torna-se entusiasmante. Para o analista não é tanto assim, pois uma grande equipa teria terminado com o jogo aos 2-0, fazendo contenção, fechando caminhos, tirando iniciativa, impondo ritmos lentos e fazendo resignar o adversário, evitando estes finais hitchcockianos, que tanto podem pender para a felicidade como para a tragédia.
Se quer saber porque é que o Benfica foi o clube europeu com melhor palmarés durante a década de sessenta, e se quer relembrar os pontos perdidos pelos encarnados em jogos arbitrados por Pedro Proença, não perca o Jornal do seu Clube.





A primeira parte foi equilibrada, com situações de perigo junto de uma e de outra baliza, ainda que fosse Reyes a estar, por duas vezesm mais próximo do golo. Um empate ao intervalo talvez se aceitasse, mas o golo de Yebda, já no tempo de descontos, foi o golpe de que o Benfica precisava para se afirmar definitivamente como a melhor equipa em campo. E foi isso que aconteceu ao longo do segundo período, no qual o F.C.Porto nunca encontrou formas de suplantar a organização benfiquista, e em que os minutos foram passando à medida que a vitória do Benfica se ia tornando cada vez mais previsível e natural, face à forma como os encarnados controlavam o jogo e neutralizavam as principais armas do adversário. A situação de vantagem transmitiu segurança ao onze benfiquista, que teve as linhas defensivas em excelente plano, e por via de Aimar ia encontrando espaços por onde pôr em sentido o adversário. Suazo esteve muito perto do 0-2, Ruben Amorim também, mas quando menos se esperava, e o F.C.Porto menos merecia, surgiu o momento do jogo - o momento do penálti.
Se me desafiarem a apontar favoritismo, pelo facto de jogar em casa, de ser campeão, de estar em primeiro, e de ser uma equipa com um processo de maturação mais desenvolvido, terei de apostar no F.C.Porto. Mas se me perguntam se acredito numa vitória do Benfica, respondo convicta e afirmativamente que sim.
É claro que o factor sorte pesa muito neste tipo de jogos, cuja decisão se prende por vezes num simples detalhe. Mas com uma atitude de grande coragem e total concentração, o Benfica tornará bastante mais difícil um desfecho negativo, ou não fosse a sorte proteger habitualmente os audazes.

