NOMES OU EQUIPA?

Roberto Martinez tem, num dos pratos da balança, uma qualificação imaculada só com vitórias e algumas boas exibições. Dir-me-ão que os adversários eram frágeis, mas com outros seleccionadores - por exemplo Fernando Santos - mesmo com adversários frágeis, Portugal poucas vezes evitava os playoffs, ou qualificações apertadas de calculadora na mão.
O espanhol tem também do seu lado uma simpatia natural, que o fez integrar-se muito bem no país, falar um português perfeito e até cantar o hino. Vale o que vale, mas é bonito de se ver.
Porém, nesta fase final, na hora da verdade, está a mostrar insuficiências tácticas e de leitura de jogo confrangedoras. Afinal, lembremos, é um técnico cujo palmarés se resume a uma Taça de Inglaterra à frente do Wigan.
As exibições da equipa, salvo alguns momentos do jogo com a Turquia, têm sido medonhas. E não fossem o golpe de sorte de Francisco Conceição aos 95 minutos diante da República Checa, e a estrondosa exibição de Diogo Costa com a Eslovénia, a selecção nacional já teria regressado a casa, sem honra nem glória - e até mesmo coberta de vergonha, dado o potencial que todos lhe reconhecem.
Este é talvez o melhor plantel de sempre de uma selecção portuguesa. Mas, por isso mesmo, não pode, nem deve, ser gerido em função do estatuto das individualidades. Ora é isso que Roberto Martinez está a fazer.
Os jogadores da Premier League, em particular os do Manchester City (não só os portugueses, à excepção de Rodri, todos eles), apresentaram-se neste Europeu verdadeiramente de gatas. Na parte que nos toca, vemos por exemplo uma sombra de Bernardo Silva. Mas também Bruno Fernandes, não do City, mas igualmente da Premier, anda manifestamente esgotado.
Não sei o suficiente da matéria para poder apontar a fase preparatória pré-Europeu como causa agravante (ou não desagravante) do estado físico destes atletas. O que sei, porque vejo, como todos vemos, é que eles estão a léguas da sua melhor forma. e no banco há muitas e variadas alternativas.
Depois há o caso Ronaldo, que aos 39 anos ainda julga que é o melhor do mundo, faz birra quando é substituído (viu-se na partida com a Geórgia, em que só pela busca de mais recordes individuais terá alinhado de início), e exige que todos joguem para ele. CR7 até podia ser útil à selecção se, com humildade, reconhecesse as suas limitações actuais, e se dispusesse a ser lançado apenas nos últimos minutos de algumas partidas mais fechadas, podendo, com os adversários desgastados, e com a sua experiência, fazer a diferença dentro da área. Ter marcado 50 golos a árabes tê-lo-á convencido que ainda estava em 2014 - mas se fosse para o Juventude de Évora marcaria talvez 80, pois tudo é relativo. Tal como Joe Biden nas eleições americanas, se não partir dele próprio esse entendimento, será difícil alguém tomar a decisão de o afastar. Não esqueçamos, também, que se trata de uma gigantesca máquina de facturar para a FPF.
Ora tudo isto seria assunto para Roberto Martinez gerir. Infelizmente, o técnico espanhol está a optar pelo caminho mais fácil: manter todas as estrelas satisfeitas, e esperar que individualmente se resolvam (nos detalhes, como ele próprio diz) as gritantes lacunas colectivas que a equipa apresenta. O resultado para já é, no mínimo, preocupante.
Nada está perdido, a França também padece de problemas parecidos, em quatro jogos ainda não marcou um golo em bola corrida, e Mbappé e o seu nariz têm estado demasiado acinzentados.
Para chegarmos mais longe, é preciso que Martinez dê um murro na mesa, e assuma (para isso é pago a peso de ouro) decisões difíceis. Por exemplo, tirar Pepe, Ronaldo, Bernardo e Bruno de um onze onde, para além de, por diferentes motivos, não renderem, a sua presença acaba por torturar tacticamente a equipa e impedi-la de explodir em toda a sua plenitude.
No próximo jogo, o onze de Portugal podia ser algo como isto: D.COSTA, CANCELO, G.INÁCIO, R.DIAS, N.MENDES, PALHINHA, J.NEVES, VITINHA, NETO, JOTA e LEÃO. Uma equipa mais fresca, mais jovem, mais disponível, e porventura mais solidária. Talvez as coisas corressem um pouco melhor. Fica o desafio.

SÓ UMA VITÓRIA, MAS QUE VITÓRIA!

Portugal jogou 7 vezes com a França. Só ganhou uma: precisamente... aquela.
Até lá, muito drama, com três eliminações em meias-finais, a cargo de Platini (1984) e Zidane (2000 e 2006), as duas primeiras após prolongamentos agónicos. 
Dos golos de Jordão com assistências de Chalana, passando pelo penálti de Abel Xavier e até ao golo de Eder, este é um confronto com história.
Nenhuma das equipas está a jogar bem. Só que uma tem Mbappé, e a outra já não tem o verdadeiro Ronaldo.
Enfim, é preciso sorte, muita sorte.

OBRIGADO, PÁ

Não há como não agradecer ao homem do jogo. 
Diogo Costa salvou Portugal, salvou Pepe (que não se chama António), salvou Ronaldo (que já não devia andar ali), e salvou... Martinez - que, com substituições incompreensíveis, desorganizou a equipa a um nível preocupante. O guarda-redes do FC Porto limpou também a imagem que deixara no Mundial, quando um erro seu ditou a eliminação da equipa lusa. 
Enfim, por portas e travessas, estamos nos Quartos. Mas contra a França há muito a rever. A selecção não pode ser gerida em função de nomes e estatutos. E tem plantel para muito mais. 

ONZE PARA OS OITAVOS