A QUEM ANDA O BENFICA A DAR BILHETES?

Na Luz, determinado tipo de protestos é assobiado por uma larga maioria. Nos jogos fora, para onde o sócio comum, mesmo com Red Pass, não consegue arranjar bilhete, quem vemos? A mesma tropa de sempre, que enche o clube de multas, o envergonha no estrangeiro, o coloca em risco de jogos à porta fechada, e há meses não faz outra coisa que não desestabilizar.
Além do problema de eficácia  diante das balizas, o Benfica tem também um problema na gestão da venda/cedência de bilhetes. Espero que sem a dimensão que se vê noutro clube mais a norte, mas também para resolver, com urgência e com coragem.

LAGE - MUITO POR ESCLARECER

Confesso que aguardava com grande expectativa uma entrevista de Burno Lage, quatro anos depois de deixar o Benfica. 
Interessava-me, sobretudo, perceber o que aconteceu entre Fevereiro e Junho de 2020, mais precisamente entre o dia em que - após uma impressionante sequência de 36 vitórias em 38 jogos de campeonato repartidos por duas temporadas - a equipa encarnada entrou no Estádio do Dragão com sete pontos de vantagem (e possibilidade de os aumentar para dez) e o dia do despedimento do técnico setubalense, no consumar da série de resultados subsequente: apenas duas vitórias em treze partidas.
Uma quebra tão súbita não é normal, não é aceitável, e carece de explicações profundas, que nunca chegaram. Ficaram sempre a faltar peças para reconstruir o puzzle desse período. 
Recordo quais foram os jogos em causa, sendo que entre Março e Junho não houve futebol devido à pandemia:

Estes jogos mostraram então erros defensivos inusitados numa equipa que, nas primeiras dezoito jornadas daquele campeonato, apenas sofrera seis golos (desafiando registos históricos). Mostraram igualmente vários penáltis falhados, dois deles creio que disparados ao lado da baliza (executados por Pizzi), e recuperações defensivas que chegaram a ser objecto de memes nas redes sociais, com as de André Almeida nos jogos contra Santa Clara e Marítimo. Para além de apagamentos de forma drásticos de vários jogadores. Erros que custaram naturalmente o Campeonato, bem como uma eliminação na Liga Europa.
Disse-se então que Pizzi, André Almeida e outros elementos do plantel (Rafa? Grimaldo? Chiquinho?) queriam deliberadamente forçar a substituição do treinador. Algo que já foi desmentido pelo próprio, e também por alguns dos jogadores em causa.

Lida a entrevista, fiquei quase na mesma. 
Bruno Lage queixa-se de falta de reforços para esse plantel (nomeadamente um lateral-direito e alguém que fizesse a posição de João Félix), mas os jogadores que tinha foram os mesmos que conseguiram a tal série de dezoito jogos, e a tal vantagem de sete pontos. Isto para além de ele próprio assumir responsabilidades nas contratações de Weigl e Dyego Souza, completamente falhadas, como se sabe, e ter sancionado a saída do central Conti - que não sendo um craque, era então a única alternativa a Ferro, com Jardel lesionado.
Queixa-se também de uma intervenção demasiado dura de Luís Filipe Vieira no balneário, após o empate a zero com o Tondela. E lamenta o apedrejamento do autocarro nessa mesma noite, o que naturalmente desestabilizou ainda mais a equipa, e aí estou com ele.
Mas isso passou-se na metade final da dita sequência de maus resultados, já após um registo de uma só vitória em nove jogos. Podia condicionar os quatro jogos seguintes, não os nove anteriores.
Recordo que, ao contrário do que foi assumido publicamente por outros clubes, o Benfica manteve, tanto quanto se sabe, a integralidade dos salários durante a pausa da Covid. Terão faltado prémios, nomeadamente do título da época anterior? Como caiu no balneário uma contratação de 20 milhões como a de Weigl? Terá havido alguma espécie de sabotagem? De quem e porquê?
Faltam esclarecimentos, que seriam muito importantes para perceber o que então se passou, e porventura para, a partir daí, entendermos também outras crises, anteriores e posteriores a essa.
Resta-nos talvez esperar que os jogadores terminem as suas carreiras, que Tiago Pinto ou Bruno Lage escrevam as suas memórias, ou o próprio Rui Costa um dia decida falar sobre o assunto.
Esses meses fascinam-me pela negativa. E acho que, como sócio, merecia uma explicação - que nunca foi dada.
Vou continuar à espera. Nem que seja sentado.

MUDAR POR MUDAR? NÃO!

Não advogo precipitações em nenhum aspecto da vida. Nem experiências de risco perante situações desconhecidas. Mudar, no meu ponto de vista, pressupõe saber muito bem para onde ir. 
Era bom que a multidão de benfiquistas que defende a substituição da equipa técnica (sim, reconheço que a maioria quer ver Roger Schmidt pelas costas), soubesse bem qual o caminho a seguir depois, e ponderasse se pretende uma mudança de paradigma futebolístico (eu tenderia a concordar com um maior investimento em músculo que em talento, capaz de transformar um grupo de bailarinos num carro de combate; e privilegiar uma defesa rigorosa em vez de um ataque empolgante, mas não me parece que seja esta a opinião maioritária entre os sócios), ou simplesmente mudar a pessoa - se for para isso, não me parece que valha a pena, até porque a contestação de que tem sido alvo Schmidt, foi a mesma que, nos últimos anos, liquidou Rui Vitória, Bruno Lage e Jorge Jesus, todos eles campeões de águia ao peito, todos eles empurrados por circunstâncias que, a não serem sanadas, voltarão a repetir-se. E esse é um aspecto sobre o qual importa reflectir.
Vejamos o quadro resumo de Roger Schmidt nas suas duas temporadas na Luz:

Ou seja, Schmidt venceu duas competições, foi afastado de outras três no desempate por penáltis, de uma por erros de arbitragem e de uma outra sem perder qualquer jogo. Chegou sempre aos quartos-de-final das provas europeias. Além disso apostou em António Silva e João Neves, resgatou Florentino das catacumbas dos empréstimos, tem vindo a lançar Tiago Gouveia e Tomás Araújo, e já colocou também em campo Samuel Soares, Gustavo Marques, Diogo Spencer e João Rêgo. Foi com Roger Schmidt que jogadores como Grimaldo, João Mário ou Rafa tiveram o seu melhor rendimento. Valorizou Enzo Fernandez e Gonçalo Ramos até níveis elevadíssimos. O balanço global não me parece nada mau.
Vejamos agora outros dados estatísticos de relevo. Por exemplo, Schmidt é o 2º treinador do Benfica com maior percentagem de vitórias no campeonato, só atrás de Jimmy Hagan (dados desde 1970):

Notável. 
O técnico alemão é também o 3º de sempre com maior número de vitórias nas competições europeias, só atrás de Jorge Jesus e Sven Goran Eriksson, e 5º de sempre com maior número de vitórias na Liga dos Campeões::

É igualmente o 3º de sempre com maior percentagem de vitórias nas competições europeias, só atrás de Guttmann e Eriksson, e mantém o 3º lugar se considerarmos apenas a Liga dos Campeões (nestes parâmetros o facto de actualmente haver mais jogos fica dissipado):

Lembremos agora todas as derrotas e empates de Schmidt no Benfica, nestas duas temporadas:

Partindo do pressuposto que na Europa qualquer resultado é possível, e que, nesse plano, ninguém pode acusar Schmidt de incumprir expectativas, vamos pois resumir os dados às competições domésticas:
Vemos que, em casa, em dois anos, o alemão só perdeu um jogo doméstico (com o FC Porto), e empatou quatro (dois deles com o Sporting). Fora de casa, para as provas nacionais, perdeu com FC Porto, Sporting duas vezes, Braga, e também com...Chaves, Boavista e Famalicão.
Em termos nacionais, os resultados verdadeiramente maus, além da derrota por 5-0 no Dragão (mais pelos números do que pela derrota em si, infelizmente tantas vezes repetida no passado), foram somente os desaires de Chaves, Bessa e Famalicão, e os empates caseiros com Casa Pia e Farense (um na temporada passada, quatro na corrente). Cinco resultados, portanto. Tudo o resto poderá considerar-se minimamente aceitável, sendo que, quanto a exibições, houve de tudo.
É de notar que as partidas com o Boavista e o Farense foram marcadas por grande infelicidade. No Bessa os encarnados cedo se viram em inferioridade numérica, e sofreram o golo decisivo no último lance do jogo; com o Farense criaram inúmeras oportunidades e não conseguiram vencer. Já em Chaves, na temporada anterior, além do golo da derrota surgir igualmente no derradeiro lance da partida, o mesmo foi antecedido de uma grande penalidade por assinalar sobre Otamendi. É preciso ter memória, e lembrarmo-nos como as coisas foram acontecendo, para não sermos injustos.
Note-se que, nesta época, mesmo se tivesse vencido em Famalicão, bem como os jogos da Luz com Casa Pia e Farense, a pontuação não chegaria, ainda assim, para alcançar o título. Há que entender os números, e perceber a força relativa dos adversários (e o Sporting fez um campeonato absolutamente extraordinário).
Perante tudo isto, mudar de treinador? Talvez sim, desde que seja José Mourinho ou melhor, e essa mudança configure uma alteração do paradigma de futebol do clube - como referi acima. 
Mudar por mudar (ou só pelas substituições, ou só pelas conferências de imprensa) não me parece boa ideia. E além de Mourinho, não vejo outro técnico que dê algumas garantias e esteja ao alcance do Benfica.
Quem defende uma mudança, devia pois dizer desde logo o que quer depois, e porquê. Caso contrário estamos a cair num folclore populista que tem tudo para correr mal.
E se Schmidt ficar e os resultados não aparecerem no início da próxima época? A contestação tornar-se-ia insuportável, provavelmente exigiria uma "chicotada psicológica", e podia comprometer a época. Pergunto eu: e se as coisas também correrem mal ao novo treinador? Faz-se o quê? Despede-se o novo também? E depois, contrata-se quem? Deita-se o clube abaixo?
Enfim, tudo isto somado a 20 milhões de euros deixa-me muitas dúvidas. Mais dúvidas do que certezas. 
Precisava de saber, por exemplo, quem indicou Jurasek, Kokçu e Arthur Cabral (só aqui estão 60M) para opinar com algum rigor, pois penso que dessas apostas resultaram grande parte dos problemas do Benfica na temporada (sobretudo no caso do lateral-esquerdo e do ponta-de-lança, posições que ficaram basicamente a descoberto, e obrigaram a constantes reinvenções tácticas). Precisava também de saber se o balneário está com o treinador ou não. Precisava ainda de conhecer melhor os motivos que levaram às abruptas quebras de rendimento do futebol benfiquista com Rui Vitória, Bruno Lage e Jorge Jesus - sobretudo na estranhíssima segunda volta da temporada de 2019-20, quando a uma sequência de 36 vitórias em 38 jogos, com a mesma equipa e o mesmo treinador, se seguiu um ciclo de apenas duas vitórias em dez jogos, que meteu penáltis falhados, exibições estranhas e até apedrejamento de autocarros, série que custou um título que parecia mais ou menos assegurado. Embora não me tenha cansado de escrever sobre o assunto, nunca ficou claro o que efectivamente se passou.
Sem esses dados não posso, em consciência, exprimir uma opinião definitiva sobre Roger Schmidt. Vítima ou culpado? Pois não sei.
Que não é um treinador perfeito, isso é óbvio. Mas...quem são os treinadores perfeitos? Guardiola? Ancelotti? Podem vir para o Benfica? Se pudessem, eu próprio ia recebê-los ao aeroporto com flores. Infelizmente o futebol português navega noutros mercados.
A verdade é que em dois anos Schmidt ganhou um campeonato. Tomara todos os treinadores do Benfica, e não só, ganharem metade dos campeonatos que disputam.
Se deve ficar ou não, cabe a Rui Costa decidir. Se ficar, será o meu treinador. Se vier outro, que seja para melhor. Espero, sobretudo, que a decisão não seja tomada em função do ruído exterior.
Os adeptos podem, e devem, ter opiniões, mas não servem para escolher treinadores. Escolhem presidentes, e fazem a sua avaliação no fim dos mandatos.

UMA DESPEDIDA E PÊRAS

Foi uma despedida em grande, confirmando o estatuto de melhor marcador e assistente deste Benfica. Rafa encheu o campo, e tivesse ele aceitado marcar os penáltis, podia mesmo ter alcançado um póquer histórico.
De resto tratou-se de um jogo típico entre duas equipas com a classificação definida. Embora tenha de se saudar o profissionalismo dos jogadores benfiquistas, ainda assim capazes de protagonizar bons momentos de futebol.
Infelizmente, o destaque vai uma vez mais para o que se passou fora do campo. Um grupo minoritário e nada representativo dos seis milhões de benfiquistas, entende que pode decidir unilateralmente o destino do clube, e impor o que quiser. Orgulho na resposta da maioria do estádio, assobiando firmemente comportamentos que apenas perturbam o clube e os seus profissionais.
Roger Schmidt podia ser simpático, bater no emblema, ir para as redes sociais declarar amor eterno ao Benfica. Opta por dizer a verdade e aquilo que pensa. E se não concordo com muitas das suas opções dentro do campo, saúdo sem hesitações aquilo que tem dito à imprensa, e que devia fazer reflectir os benfiquistas - pelo menos aqueles que tenham cérebro para tal.
Ainda bem que a temporada está a terminar.

PARA QUE SERVEM AS CRÍTICAS?

Criticar de forma constante e violenta aqueles que é suposto apoiar é algo que escapa a qualquer racionalidade.
A crítica é legítima. Mas o que se passa no Benfica de há uns tempos para cá é apenas estúpido.
A continuar assim, vai ser difícil a qualquer treinador e a qualquer jogador alcançar sucessos. 
Se alguém pensa que é a chicote que se trabalha melhor, é porque vive no século XVIII.
Infelizmente parece ser para aí que muitos querem voltar. No futebol e não só.
Eu? Vou continuar a amar o meu clube e a defender quem o representa. Mesmo que isso se transforme numa excentricidade - num país e num mundo a ficar cada vez mais de pernas para o ar. 

O ADEUS DE UMA LENDA

8 épocas de águia ao peito
325 jogos (22º da história do SLB com mais jogos)
93 golos (24º da história do SLB com mais golos)
8 títulos (3 campeonatos, 1 taça e 4 supertaças)
48 jogos na Champions (10º da história do SLB com mais jogos na prova)
13 golos na Champions (6º da história do SLB com mais golos na prova, só atrás de Eusébio, José Augusto, José Águas, José Torres e Nené).
Melhor marcador dos três actuais plantéis em "Clássicos" e "Dérbis" (7 golos)
Marcador dos golos das duas últimas vitórias do SLB no Dragão (que valeram os dois últimos campeonatos)
Marcador do decisivo golo frente ao Braga no último título do SLB
Melhor marcador do SLB neste campeonato (12 golos)
Melhor marcador do SLB nesta temporada (20 golos)
Mais assistências pelo SLB neste campeonato (11 assistências, 2º da competição)
Mais assistências pelo SLB nesta temporada (14 assistências)
Campeão europeu em 2016
Como disse Jurgen Klopp: "Rafa? Uau!!!" Como disse Mircea Lucescu: "Como é possível Rafa ainda jogar em Portugal?"
Os números são impressionantes. O estilo faz lembrar Chalana. Querido de todos no balneário. Titular absoluto com todos os treinadores. Um dos melhores jogadores do Benfica neste século.
Perante tudo isto, perante uma verdadeira lenda (que nunca me cansei de elogiar), o que se estranha é a indiferença de tantos benfiquistas, ao longo dos anos, face a Rafa Silva. Talvez não saiba vender a imagem como outros. E a verdade é que o empresário também não ajuda. Mas... 
Por um lado, queixam-se do futebol moderno, e dos jogadores relâmpago que saem ao primeiro aceno (Félix, Sanches, Enzo, Darwin). Por outro, não valorizam quem fica tantos anos no clube, sempre com números espantosos, sempre com elevado profissionalismo, sempre um dos melhores da equipa.
Rafa merece todos os aplausos. Merece todas as vénias.
Como outros antes dele, só depois de sair será devidamente valorizado.
Lamento profundamente que parta. E não antevejo fácil a substituição.

SIMPLES

Infelizmente, parte substancial das opiniões expressas em nome do benfiquismo nas redes socias, em sites, fóruns ou blogues (enfim, tudo o que permita o anonimato), são falsas. Há espaços onde isso é manifesto (Serbenfiquista, Geração Benfica etc), e basta um pouco de atenção para o perceber. O nosso VdB, por ser pequeno e ter menos visualizações, não fica tão exposto ao fenómeno - que, diga-se, está longe de se esgotar no futebol. 
Todo esse ruído faz muito barulho, mas tem pouca credibilidade. Quem ainda não se habituou a ignorá-lo, com o tempo aprenderá forçosamente a fazê-lo. No futebol e não só.
Além da multiplicidade de perfis de falsos "benfiquistas" que pululam pela internet procurando desestabilizar e manipular mentes mais desatentas (e de uma comunicação social ávida de sangue), há também a claque. E para esta eu utilizaria a velha máxima segundo a qual o raciocínio de uma multidão em fúria é equivalente ao da pessoa mais estúpida que lá estiver. 
Não é especificidade do Benfica. Basta lembrarmo-nos de Alcochete 2018, de como a Juve Leo impediu a entrada de José Mourinho no Sporting em 2001, ou da última AG do FC Porto, para percebermos o efeito de um grupo de delinquentes quando lhe é dada demasiada importância. Esta época o Benfica já teve a sua dose, e se ninguém lhes entregasse bilhetes, talvez episódios como os de Faro, de Milão ou de San Sebastian pudessem ter sido evitados.
Deste modo, as opiniões que contam, aquelas que interessam, são das dezenas de milhares de sócios que enchem as bancadas do estádio jornada a jornada; que se deslocam à Luz dos mais variados pontos do país, realizando despesas que vão muito para além do preço do bilhete ou Red Pass, chegando a casa tarde mesmo tendo de trabalhar no dia seguinte; também daqueles que, espalhados pelo mundo, nem sequer podem vir a Lisboa; ou ainda de outros que nem sócios podem ser por não terem dinheiro para quotas. Se acendem luzinhas ou não, pouco me interessa: são eles o Benfica. Somos nós o Benfica. Sempre o fomos. Sempre o seremos. Com paixão pelo clube, e respeito por quem o representa.
Quando falo de benfiquistas, ou dos benfiquistas, é destes que falo. Os "outros", ou nem o são, ou são inúteis ou mesmo nocivos.
Dito isto, e mau grado todos termos direito a opinar, entendo que cabe ao presidente do clube escolher o treinador, decidir se ele se mantém, ou se deve ser substituído. Só ele tem os dados completos para tomar decisões dessa natureza. Os adeptos não assistem aos treinos, não conhecem as dinâmicas de balneário, não sabem como flui o relacionamento entre jogadores, nem entre estes e o treinador, e não percebem grande parte do conteúdo técnico da função (eu não percebo nada de fisiologia, e muito pouco de tácticas, tenho a humildade de o reconhecer).
Tomando as decisões, ao presidente cabe também assumir as responsabilidades. E no final do mandato, então sim, os sócios serão chamados a decidir se deve continuar, ou deve dar lugar a outro que se proponha ao cargo.
Tudo isto é muito simples. Por vezes não parece.

TRISTE FIM

O campeonato ficou decidido em Alvalade, quando Neres falhou o 1-2 numa baliza, e Catamo marcou na outra, no último minuto, o 2-1. Daí em diante, só algo muito estranho podia tirar o título ao Sporting - que, digo-o desde já, foi um justo campeão.
Eliminado de todas as outras provas, e com o segundo lugar assegurado, exigia-se ao Benfica um fim de campeonato digno, que o deixasse mais perto do rival, e adiasse a decisão para tão tarde quanto possível.
Infelizmente, nem isso aconteceu.
O jogo de Famalicão é, de resto, um retrato fiel da temporada: uma equipa ineficaz diante da baliza adversária, e permeável na sua, vítima dos seus próprios equívocos, e com opções tacticamente incompreensíveis.
Se Schmidt tem culpa? Tem. Se tem condições para continuar? Depois deste jogo, creio que não. Mas nem ele é o único culpado, nem a sua demissão resolverá todos os problemas do Benfica.
Haverá tempo para dissertar sobre os erros passados e o que se pretende para o futuro.  Há problemas de competitividade, e até de mentalidade - aos quais, nem os adeptos são alheios. Isso fica para mais tarde.
Este Benfica 2023-24 começou a falhar em Julho, no mercado de transferências, quando alguém (Schmidt? Rui Costa? Braz? Scout?) pensou que Jurasek podia substituir Grimaldo, e Arthur Cabral podia substituir Gonçalo Ramos - custando o mesmo que um tal Gyokeres. Depois foi a brincadeira da baliza, da qual resultou a saída de um guarda-redes apenas razoável, mas experiente e seguro, trocado por uma promessa ainda verde, e que cometeu mais erros numa época que o seu antecessor em seis (aqui, todos sabemos, a responsabilidade foi do técnico alemão). Já Kokçu foi a contratação mais cara de sempre do futebol português, e como tal esperava-se que fizesse a diferença. Vê-se que foi um logro, mas já na altura me parecia inútil gastar 30 milhões numa posição onde o Benfica tinha aquele que é, provavelmente, o melhor jogador do plantel. No meio de tudo isto, dos 32 campeões nacionais, apenas permaneceram no plantel 12 elementos. Provavelmente também a folha salarial foi subvertida, com diferenças que podem ter gerado focos de insatisfação. Saíram jogadores importantes na rotação e, eventualmente, também no balneário, como Chiquinho, Guedes, Gilberto, e depois Musa.
De agosto em diante, o Benfica travou uma luta constante contra si próprio, e contra todos estes equívocos. O caso do ponta-de-lança é manifesto, com Schmidt a trocar, uma, duas, três, inúmeras vezes, e sem nunca acertar, por um simples motivo; nenhum servia para o Benfica, nem para o estilo de jogo da equipa que meses antes se sagrara campeã.
A tantos erros próprios se juntou um campeonato estratosférico do Sporting - que também é preciso considerar. O Benfica podia e devia ter sido muito melhor, mas talvez nem isso fosse suficiente para ganhar este título. Reconhecer mérito a quem venceu é o melhor ponto de partida para uma análise honesta a toda a temporada benfiquista - equipa que, diga-se também, conquistou a Supertaça, foi eliminada da Taça da Liga e da Liga Europa nos penáltis, e saiu da Taça de Portugal empurrada pela arbitragem.

ONZE PARA FAMALICÃO

Adiar as festividades do rival ao máximo. Reduzir a distância para o rival ao mínimo. Ganhar os três jogos!
 

ESPERO QUE SEJA PARA RIR


 Vou querer rir-me disto no domingo à noite.