A FRIO E DE FRENTE
Antes de mais, e antes que alguém faça o reparo, digo desde já que a direcção do
Benfica têm também algumas responsabilidades na época deplorável que a
respectiva equipa de futebol está a realizar. Impulsionado pela necessidade de controlar
os gastos, terá havido algum optimismo quanto à substituição dos jogadores
a transferir (e excepto Mitroglou, nada havia a fazer para evitar as vendas),
designadamente quanto à condição física de Júlio César (que se pensava poder
assegurar, por um ano que fosse, a baliza órfã de Ederson), quanto ao estado de
forma de Jardel (que só por lesão havia saído da equipa e, na falta de
Lindelof, parecia poder regressar em grande à titularidade), quanto à qualidade
técnica de André Almeida (que chegou a sentar Nélson Semedo no banco durante
meses) ou quanto à eficácia de Seferovic (que na pré-época, e até ao fecho do
mercado, com oito golos anotados até dia 19 de Agosto, parecia permitir a
libertação de Mitroglou, cujo salário seria porventura mais elevado). Quem de
nós, na altura, com os dados de então, confrontado com a necessidade de
decidir, não seria levado a pensar da mesma forma? Eu desde já me acuso: teria feito praticamente o mesmo, talvez com a excepção do caso dos pontas-de-lança. Passados alguns meses,
percebe-se que as coisas não funcionaram como se esperava, e o próprio Luís
Filipe Vieira já reconheceu, em entrevista televisiva, que nem tudo correu bem
na preparação da temporada.
Dito isto, há que perceber que, mesmo com todas as condicionantes
referidas, ou mesmo erros cometidos, o Benfica tem, ainda assim, um plantel fortíssimo, com múltiplas
opções em quase todos os sectores do terreno, sobretudo do meio-campo para
diante, o que choca frontalmente com a total ineficácia goleadora revelada, por
exemplo, nesta fase de grupos da Liga dos Campeões, e com a confrangedora
prestação da equipa no plano colectivo – no qual não se vislumbra qualquer
dinâmica de jogo, quase parecendo não existir treino táctico.
Vamos então ao plantel.
Na baliza, juntamente com o referido Júlio César, estão dois jovens
promissores, Svilar (presumivelmente um dos melhores do mundo a breve trecho) e
Bruno Varela (que ontem demonstrou não ser tão mau como um erro, apenas um
erro, havia indiciado, e tinha sido suficiente para sumariamente o retirar do
onze).
Na defesa, André Almeida, Jardel, Luisão e Eliseu constituíram o
quarteto campeão de há duas épocas. Mais tarde, o excelente Gimaldo impôs-se na ala
esquerda. Ruben Nunes apareceu já nesta temporada, e justificou a aposta.
Lisandro, não sendo uma estrela, parece-me um suplente credível, e opção
válida para a maioria dos jogos domésticos. Ainda assim, como disse logo no
início, creio que o lado direito e o eixo central poderiam, e deveriam, ter sido melhor acautelados.
Sabe-se que houve sondagens por João Cancelo e Garay. Provavelmente, a necessidade
de contenção de despesa afastou essas duas hipóteses.
No meio-campo há opções para todos os gostos. Nem é preciso falar de
Filipe Augusto (que também não é tão mau como se diz), de jovens promessas da equipa B
(Florentino ou Gedson), ou de emprestados (como André Horta, Pedro Rodrigues,
Cristante, Talisca ou Carrillo). Fejsa, Samaris, Pizzi e Krovinovic são opções mais
do que suficientes para a zona central, ao passo que Salvio, Zivkovic, Cervi,
Rafa e o entretanto promovido Diogo Gonçalves, assegurariam as alas de qualquer
candidato ao título nacional, ou a uma passagem da fase de grupos europeia, fazendo mesmo inveja aos principais rivais.
No ataque, Jonas, a grande estrela da equipa, manteve-se no plantel. Raul Jimenez também,
além da entrada de Seferovic, que acabou por ser argumento para colmatar a saída de Mitroglou. Pode
questionar-se a diferença de características técnico-tácticas entre aquele que
entrou e aquele que saiu. Mas um trio onde estão o melhor jogador da Liga
Portuguesa, e os pontas-de-lança titulares da selecção mexicana e suíça, além de
um jovem internacional brasileiro (Gabigol) à procura de regeneração, é mais do que suficiente para os objectivos de um clube como o Benfica.
Resumindo, o plantel é forte, e tinha obrigação de render muito mais
do que aquilo que se vê em campo. O problema do Benfica não é, pois, um problema de
clube, nem de opções estratégicas, mas sim exclusivamente de equipa, e de qualidade de jogo.
Acresce que não é de agora. Já na fase final da temporada passada o futebol
colectivo do Benfica era medíocre. Recordo, por exemplo, o duplo confronto com
o Estoril (campeonato e taça), ou a vitória sofrida em Moreira de Cónegos, para
não ir aos apagões de Nápoles, Dortmund, segunda parte de Istambul, ou à estranha primeira parte
com o Boavista. As prestações em Setúbal e na Madeira foram miseráveis, tal
como o jogo do Algarve com o Moreirense, estas últimas sublinhadas com derrotas
comprometedoras.
Se verificarmos com atenção, sobretudo na segunda metade da temporada
passada, foram mais as exibições paupérrimas do que as minimamente convincentes.
Salvaram-se os jogos com o Vitória de Guimarães, e como a última imagem é a que
prevalece, tudo o que ficou para trás foi mais ou menos esquecido. E se há
dúvidas face ao plantel actual, esse tinha Ederson, Semedo, Lindelof e
Mitroglou, e até certa altura até Gonçalo Guedes.
Intrigante também é a desvalorização futebolística de activos como Rafa, Raul Jimenez, Zivkovic, Samaris, Cervi, Seferovic, para não ir aos próprios André Almeida, Jardel e Lisandro. Todos eles deixam a sensação de que poderiam render muitíssimo mais com outro treinador. De todos fica a sensação de não aprenderem nada, e de andarem algo perdidos e entregues a si próprios dentro do campo. Já na época passada era gritante a diferença, por exemplo, do Carrillo de Jorge Jesus, para o Carrillo de Rui Vitória.
A falta de oportunidades dadas a João Carvalho é outro enigma. Agora até Keaton Parks foi chamado, o que é quase uma provocação ao jovem português. Zivkovic saiu da equipa depois de uma excelente exibição. Cervi idem. Seferovic foi para o banco no dia em que jogava no seu país. Krovinovic não foi inscrito. Enfim...também no plano das escolhas, o critério, ou não abunda, ou não é minimamente entendível. E quando não se entende um critério, e os resultados são maus, o que sobra?
Aliás, podemos estar já numa fase em que o treinador tenha perdido irremediavelmente o grupo - que aparentemente já não acredita nas suas ideias.
Aliás, podemos estar já numa fase em que o treinador tenha perdido irremediavelmente o grupo - que aparentemente já não acredita nas suas ideias.
A olho nu não vislumbro qualquer falta de empenho de qualquer profissional. Os jogadores correm,
lutam, mas na maioria das vezes não sabem como o fazer, ou o que fazer com a
bola. Quando as individualidades resolvem (e no campeonato, felizmente, isso
tem acontecido muitas vezes, sobretudo com Jonas), o assunto é abafado. Quando tal não acontece, ou
quando os adversários assim não o permitem, a ausência de uma ideia de jogo é
confrangedora, os desequilíbrios colectivos assustadores, e globalmente as
exibições tornam-se absolutamente deploráveis.
Muitas vezes o Benfica até entra bem nas partidas (Bessa e Funchal,
por exemplo), mas ao mais pequeno revés fica sem capacidade de reacção, e sem
argumentos tácticos para recolocar o jogo a seu favor, mostrando uma
fragilidade imprópria para uma equipa grande.
O discurso do treinador é bonito, mas repetitivo, desculpabilizante e
redondo, sem nunca verdadeiramente falar do jogo em si, e sem nunca justificar
porque joga o Benfica tão mau futebol – algo que se está a transformar numa
regra.
Enfim. É muita coisa. Às quais podemos juntar o péssimo início de
época de 2015-16, que miraculosamente acabou em título – talvez mais por
intervenção divina (Bryan Ruiz, Jonas-Bessa, Ederson-Arnold etc), ou, pelo menos, por força psicológica face ao que se passara no defeso, do que por obra de um
treinador que não trazia grande currículo, e no Benfica raramente se mostrou
acima da mediocridade.
Não me perguntem quem quero para treinar o Benfica. Tenho alguma prudência em defender desde já, categoricamente, o despedimento de Rui Vitória,
precisamente porque não vejo muitas alternativas que me satisfaçam (Mourinho,
Jardim e Marco são inacessíveis, outros portugueses são demasiado inexperientes,
e um estrangeiro, não podendo ser Guardiola ou Ancelotti, é sempre um tiro no
escuro). Mas já não tenho dúvidas em identificar, e personalizar, o problema do
futebol do Benfica. Só não vê quem não quer.
Lamento que venha a ser necessária uma derrota no Dragão, e, quem sabe, uma eliminação da Taça de Portugal, e mesmo da Taça da Liga (a juntar ao fracasso europeu),
para esta evidência se tornar universal.Mas, infelizmente, parece-me ser isso que nos espera.
9 comentários:
Concordo com quase tudo. Mas há coisas com que não concordo.
1. A onda de lesões acabou este ano. O que há é menos do que os rivais diretos. Esses sim estão com graves problemas musculares em jogadores nucleares. Ou querem chamar a gripes e apendicites onda de lesões?
2. A gestão de um clube de futebol, com tantas (dezenas de) incógnitas, não se faz com "sensações que os jogadores poderiam render mais com outro treinador".
A gestão faz-se com tomadas de decisão racionais e não com impressões. Isso é mais para os bruxos e para os videntes.
3. O discurso do treinador para a opinião pública não é para aqui chamado, quando estamos a falar da gestão interna de um clube, quando o que importa realmente é a ligação e a gestão motivacional do plantel, a qual é feita dentro de portas e não para a CS e adeptos.
Os jogadores nem devem ouvir e alguns até nem percebem português. Os adeptos, como animais irracionais que são, começam a falar nisso porque olham para o lado, porque SC tem um discurso agressivo que agrada à chungaria do clube que dirige. Eu não quero Sérgjos Conceições no Benfica, por mais agressivos e menos "redondos" que sejam os seus discursos.
4. Toda esta algazarra que se observa por parte dos adeptos mais sensíveis e instáveis é fruto do MEDO que sentem porque se aproxima um jogo importante no Dragão. Este medo é mau conselheiro porque passa para a equipa, por mais que digam que não.
Mas é o que os grunhos do Porto querem, têm andado a incutir MEDO nas equipas e em todas as estruturas do futebol português, em especial nos árbitros, sempre assim fizeram quando o Benfica ia e vai às Antas.
Os adeptos mais irracionais e mais mentalmente instáveis são aqueles que mais berram! Pensam que o ruído espanta o medo que sentem. É apenas irritante!
Penso que não seja essa a forma mais correcta de enfrentar grunhos e mafiosos com agenda conhecidas. Por isso aplaudo e saúdo o programa "Chama Imensa" que mostra, denuncia e atira às trombas da escumalha corrupta que não temos medo deles e que vamos às Antas para ganhar!
Viva o Benfica!
Tenho praticamente a mesma opinião. Mas parece-me a mim que estamos numa situação de não saber o que fazer. Se não devemos desde já despedir Rui Vitória, mas que perante este cenário com este treinador parece inevitável o descalabro em todas as competições, não há solução que nos valha? Se não desimpedirmos o actual treinador porque aparentemente não há alternativas (ou porque os de qualidade quase inquestionável são inacessíveis, ou porque os restantes seriam tiros no escuro) é deixar isto ir andando? Bem, deixar como está parece-me que choca um pouco com a justificada impaciência dos benfiquistas! Tempos difíceis precisam de decisões difíceis. Mas difíceis ou não o urgente é que se tomem decisões.
Manuel, quando designas os adeptos de 'animais irracionais' estas a fazer alguma referência autobiográfica ou costumas ver os jogos sempre em Sete Rios?
Joca, enfiaste a carapuça? É lidar!
Estou em crer que Rui Vitória perceberá quando for o fim da linha porque a Direcção já disse que quer manter o treinador até ao fim.
Quanto à construção do plantel, penso que houve duas posições que não foram devidamente acauteladas e uma em que se assumiu um risco. Na baliza, já se sabia que o JC sofre de lombalgia e teríamos de pensar noutro GR não como suplente, mas como titular. Custa-me dizê-lo, mas nunca vi no Varela esse potencial (e não foi pelo erro do Bessa). O Svilar é um prodígio (mais uma ganda malha!) mas acaba por ser lançado mais cedo e com mais responsabilidade do que seria aconselhável. Agora é continuar!
Para DD, houve tempo suficiente para encontrar um plano B após a constatação de que o Pedro Pereira não correspondia ao esperado. Precisávamos, e precisamos, de uma alternativa ao André Almeida que ataque tão bem como o Douglas, mas seja pelo menos razoável a defender...Que venha pelos Reis!
Para DC, foi assumido o risco na condição física do Jardel e na inexperiência do Kalaica e do Rúben Dias. Felizmente temos o Rúben em grande!
De resto, temos muitos e bons.
Quanto ao mister Rui Vitória, ainda é credor da minha confiança. Convém lembrar que conquistou 12 dos últimos 16 títulos disputados em Portugal. Quanto à qualidade de jogo, vejamos: a época passada foi marcada por longas lesões de jogadores nucleares e por períodos com imensos jogadores lesionados em simultâneo, obrigando a muitas alterações e quebras de rotinas. Mesmo assim, ainda que sem muitas exibições brilhantes, fomos uma equipa consistente, pragmática e vencedora.
Esta época, estamos a assistir a uma quase-reconstrução da equipa a partir de trás.
Dois dos novos esteios da nossa defesa têm meia dúzia de jogos como seniores. Começámos agora a utilizar um jogador que, creio, será peça-chave neste espinhoso caminho para o Hexa, digo, para o Penta. O Krovi poderá ser o "novo Renato", aquilo que nos falta para ligar os sectores e potenciar o nosso jogo. Entretanto, a sua inclusão na equipa implicou (implicará?) uma alteração no sistema utilizado nas 8 épocas anteriores.
Claro que isto leva o seu tempo, é um processo em curso, e tem os seus custos em qualidade exibicional e em pontos. Talvez falte muito pouco para aquele clic, em que de repente tudo começa a fazer sentido e a sair bem. Eu acredito! A distância não é irrecuperável e os protagonistas têm provas dadas.
Força BENFICA!
Luís Fialho
Meu caro,
desgraçadamente chegou a minha (péssima) oportunidade de VOLTAR a afirmar !..."Calma. Somos Tetra-Campeões" !!!
Não, não é SÓ o treinador, em ilusão - depois de muita, muita sorte no duplo êxito - no conforto da sua 'cadeira de sonho', o ÚNICO, tampouco, o GRANDE responsável pelo 'planeamento' (quando tínhamos tudo para "encostar às cordas" por completo, desportiva e financeiramente, os nossos inimigos figadais (SIM, é do que REALMENTE, no presente e de alguns anos a esta parte se tratam, por mais alguns anos !...) desta vergonhosa época desportiva !...embora seja o MAIOR dos responsáveis na falta de oposição ao desmembrar da SUA equipa por completo e na aceitação de quem quer que seja que lhe metam à frente !...mesmo que nem umas chuteiras saiba calçar.
E todos vós (os Manuéis desta vida) sabeis bem que não.
- P. S. -
O "jovem internacional brasileiro (Gabigol)" será de valor idêntico ao "jovem internacional brasileiro (Keirrison)" que também veio para o Benfica, à procura de regeneração ou ao do jovem internacional - uma única vez - o magnífico Bruno Cortez ?!...
E o Hermes?!...e o Pedro Pereira?!...e o Buta?!...e o 'camone' sérvio (?) de que nem o nome lembro, foram pedidos e empandeirados pelo Rui Vitória ?!
http://pluribusunum7.blogspot.pt/2017/11/continuam-tentar-ressuscitar-o-fantasma.html
Luís Fialho
Meu caro,
parece que um dos que se está "nas tintas" para o sofrimento dos Benfiquistas e a (ainda!...) possível conquista do P3n7a pelo Glorioso Sport Lisboa e BENFICA, finalmente, está ZANGADO !...
Ouvi dizer que foi uma zanga devido à distância ou para justificar a ausência de "pedalada" quando a equipa mais precisa, da falta que fazem uma ou duas Casitas para reinaugurar.
Há 15 dias, durante a 'conversa em família' (ou será tertúlia familiar?!...) tudo corria sobre rodas !!!
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