EM BERLIM O SAMBA FOI CROATA

Ao quinto dia de Mundial tivemos finalmente um grande espectáculo. O Brasil-Croácia de ontem foi um jogo fantástico, carregado de emoção e bom futebol, e ao qual apenas faltaram mais alguns golos para que entrasse directamente para a galeria dourada dos melhores jogos dos últimos campeonatos.
Quem esperava um Brasil esmagador e dominador a todo o tempo e em todos os capítulos de jogo, terá ficado surpreendido com a extraordinária exibição de uma Croácia, sem grandes nomes, mas com um jogo colectivo muito bem desenhado e uma poderosa capacidade física, que a tornou capaz de discutir o resultado palmo a palmo com os campeões do mundo, e até de deixar um cheirinho a injustiça no resultado final.
É claro que quem tem jogadores como Ronaldinho Gaúcho ou Kaká arrisca-se a ganhar qualquer jogo a qualquer momento. Mas a nota saliente que ressalta desta partida é que, em termos de colectivos – e o futebol é um desporto de equipa – este Brasil tem algumas lacunas importantes, evidenciadas ontem pela equipa Croata, e que lhe poderão causar dissabores nas fases mais adiantadas do torneio.
Desde logo, o Brasil apresenta-se algo deficitário nas alas, onde Roberto Carlos e Cafú (juntos perfazem perto de setenta anos de idade) assumem a totalidade das despesas ofensivas e defensivas. Tanto o lateral do Real Madrid, como o jogador do Milan, denotam já algumas dificuldades nas transições rápidas, e têm por vezes dificuldades em fechar o seu corredor (além de pouco ou nada auxiliarem os centrais através de basculações interiores, pecado frequente em laterais brasileiros). A agravar este aspecto era perceptível , mesmo pela televisão, que por diversas vezes ambos os laterais subiam em simultâneo, o que é absolutamente contra-indicado numa equipa com poucos recuperadores e com algumas dificuldades nas compensações defensivas.
No meio campo, Emerson e Zé Roberto desfizeram-se em trabalhos forçados para tentar colmatar a pouca ou nenhuma propensão defensiva dos quatro “vagabundos” que actuam à sua frente, mas o resultado foi bastas vezes uma equipa partida em dois – os que atacavam e os que defendiam – com quatro elementos pura e simplesmente à espera que a bola chegasse aos seus pés (dois deles, Adriano e Ronaldo, praticamente estáticos) e um fosso significativo a meio campo.
Não creio que no competitivo futebol actual seja possível a qualquer equipa apresentar-se com mais de dois elementos que não se envolvam no processo defensivo (os dois pontas de lança, ou um ponta de lança e um dos médios, e mesmo assim tendo que fazer pressão junto das linhas mais recuadas do adversário). Admito que a elevadíssima craveira dos jogadores que compõem a selecção brasileira lhes permita um modelo em que esse número se possa elevar a três, eventualmente Kaká (com alguma cultura táctica), Ronaldinho Gaúcho e um ponta de lança. Quatro é manifestamente demais e a jogar deste modo, se o Brasil apanha pela frente, por exemplo, uma Itália inspirada, irá ter seguramente muitas dificuldades em impor o seu jogo.
No meu ponto de vista, para o Brasil de forma tranquila se sagrar campeão do mundo, poderia apresentar aproximadamente a seguinte configuração: Dida, Cafú, Lúcio, Juan, Roberto Carlos, Emerson, Gilberto Silva, Zé Roberto (cobrindo o flanco esquerdo), Kaká (a descair mais pela direita), Fred (ou Adriano) e Ronaldinho (livre). Opções não faltam a Parreira, e o jogo de ontem terá sido útil para, de futuro, debelar fragilidades.
Em termos de desempenho individual a grande figura foi inquestionavelmente Kaká, que resolveu o jogo com um fabuloso golo. Ronaldinho teve alguns bons pormenores, sobretudo na primeira parte, enquanto que, ao invés, os pontas de lança estiveram, como já disse, completamente ausentes do jogo, particularmente Ronaldo, a quem nem a possibilidade de se tornar no melhor marcador de sempre da história dos mundiais parece motivar o suficiente para abandonar o ar burguês e indolente de quem não treina tanto quanto deve (porque não dar uma oportunidade a Fred ?).
Os centrais estiveram muito bem, sobretudo Lúcio (muito bom no jogo aéreo), e Dida transmitiu-lhes sempre total segurança, efectuando algumas boas intervenções. De Emerson e Zé Roberto já se falou. Robinho entrou bem no jogo, trouxe uma maior dinâmica à equipa, e pelo menos teve a vantagem de colocar o Brasil a jogar com onze, algo que não acontecera com Ronaldo em campo.
A Croácia foi uma bela surpresa, e quem se lembra da excelente equipa de Suker e Porsinecki (terceiro lugar no França 98), de certo reconheceu ontem a traça típica de um futebol bonito, rentilhado, aparentemente lento mas profundo, que os pode levar bem longe neste torneio. Os Croatas até se tiveram que debater contra a sorte do jogo, que lhes retirou por lesão o seu melhor elemento em campo durante a primeira parte (o veterano capitão Niko Kovac), e pouco depois, a dois minutos do intervalo, os colocou em desvantagem no marcador num golpe de génio de Kaká. Mesmo assim, foi na segunda metade que o seu jogo se tornou mais exuberante, quando foi capaz durante alguns períodos de encostar o Brasil na sua zona defensiva, construindo oportunidades de golo suficientes para justificar o empate que todavia não logrou alcançar. Já não há vitórias morais, mas se as houvesse a Croácia de ontem bem que merecia uma, tal como os seus adeptos fizeram por deixar bem claro na ponta final do jogo, com o inesgotável apoio que deram aos seus jogadores. Nomes a reter nesta exibição croata: Babic, Srna e o incansável Prso na frente.
Se tudo correr dentro da normalidade, estas duas equipas estarão nos oitavos de final.

7 comentários:

Rakal D'Addio disse...

Muito legal observar a opinião de alguém que não respira o ar brasileiro.

Anónimo disse...

E pode estar certo que, por muito que admire o Brasil, se tiver de criticar, critico. Tal como com Portugal, aliás.

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