UM PROBLEMA LATERAL

Bah só volta em 2026. Carreras, mais dia menos dia, vai para o Real Madrid. Daqueles que eram os titulares nas laterais no início da época passada, não haverá nenhum em grande parte da próxima. Entretanto veio Dahl, que é um jovem promissor, mas que, a meu ver, é melhor médio do que defesa.
Não se sabe se os centrais ficam (Ota, Tomás e António). Mas mesmo que, como espero, permaneçam, deverão ser utilizados como isso mesmo: centrais.
Não descurando o meio-campo, com um médio que seja capaz de manter bola, e o ataque, com uma alternativa a Pavlidis (não sei se Belotti fica), o grande foco de mercado do Benfica deve ser a aquisição de dois laterais de grande qualidade.
Laterais que ataquem (o modelo de jogo exige-o), mas sobretudo que sejam bons defensores, de preferência altos e robustos (a equipa carece de dimensão física), que possam fechar por dentro, e a partir dos quais o Benfica possa fechar, também ele, as portas aos adversários - coisa que nesta temporada raramente foi capaz de fazer.

INENARRÁVEL

Da batalha de Miami ninguém se saiu bem.
Desde logo, à cabeça, e como maior responsável, um árbitro que não devia estar ali. Não foi preciso muito tempo para se perceber que não iria conseguir gerir o jogo, permitindo todo o tipo de entradas aos jogadores argentinos, e deixando que os seus critérios rapidamente se tornassem ingovernáveis. Na segunda parte houve uma grande penalidade clara, cometida sobre Pavlidis, e que foi ignorada. Mas o mais gritante foi a forma como o juiz mexicano compactuou com todos os truques dos argentinos. O tempo de compensação atribuído no fim do jogo foi o corolário de uma actuação absolutamente incompetente, e que foi uma das razões, a principal, para que a qualidade do espectáculo cedo ficasse comprometida. 
Não sei bem o que dizer do Boca Juniors. Já vi jogos da Copa Libertadores, e mesmo da liga argentina. Quando isto é entre eles, ou passa despercebido ou até achamos piada. Contra a nossa equipa torna-se nojento. Aquilo foi tudo menos futebol: provocações, agressões, simulações, quebras de ritmo, enfim, um manancial de anti-jogo de fazer inveja a qualquer Arouca ou Casa Pia desta vida.
Perante estas circunstâncias, em fim de época, e manifestamente cansado, era difícil que o Benfica realizasse uma grande exibição. A equipa até entrou bem, mas sentiu em demasia o primeiro golo do Boca. Não mais soube entender-se com o futebol arruaceiro do adversário, com a complacência do árbitro e com os seus próprios fantasmas.
Sempre defendi, e defendo, Bruno Lage. Neste caso confesso que não percebi o onze inicial, nem as substituições. E se na primeira parte a equipa foi de algum modo apanhada de surpresa, na segunda, já em desvantagem e sabendo ao que ia, exigia-se uma atitude muito mais afirmativa, e um onze mais adequado - com os dois turcos e eventualmente Gouveia do lado direito (naturalmente sem Dahl, Renato e Bruma).  
A verdade é que a entrada de um segundo ponta-de-lança não melhorou nada a equipa, deixando o meio-campo demasiado desprotegido, fazendo-a perder o controlo da bola e do jogo. O problema do Benfica não era táctico, mas sim de intensidade competitiva face a um adversário de faca nos dentes e a um árbitro permissivo. Essa substituição não resolveu um problema, e pelo contrário, criou outro.
Curiosamente, foi em inferioridade numérica (ironia do destino ver Belotti expulso por pitons na cabeça de um adversário, coisa que nem com esta arbitragem passou despercebida) que o Benfica melhor jogou. Encheu-se de brios, e conseguiu resgatar uma igualdade que, não sendo óptima, permite-lhe manter-se vivo na prova.  A expulsão do argentino repôs a igualdade numérica, mas então o árbitro, com os seus ridículos cinco minutos de compensação, não deixou tempo para a remontada.
Enfim, um mau jogo, uma equipa a querer jogar mas sem o conseguir, outra sem sequer o querer, e um árbitro inqualificável. Péssima publicidade para a nova prova da FIFA. Uma absoluta miséria.

ENTRAR A GANHAR


Já se percebeu que o Auckland não vai dar grande luta. O Bayern é o Bayern. E assim sendo, a partida com o Boca Juniors vai, muito provavelmente, sobretudo se alguém a vencer, definir quem acompanha os alemães na fase seguinte. 

UM DIA MAU. MUITO MAU!

Hoje foi um dia muito mau para o Benfica.
De manhã, a equipa de sub 17 venceu o FC Porto, sagrando-se Tri-Campeã nacional da categoria. E completou o “hat-trick” das camadas jovens (Juniores, Juvenis e Iniciados).
Nos saudosos tempos anteriores aos negros “vieirismo” e “costismo”, estas triplas conquistas eram trigo limpo, ano após ano. Todas num ano é inédito, mas…isso é um pequeno detalhe que não interessa nada.
Foi mesmo muito mau. O Benfica venceu apenas por 2-1, tendo sete campeões da Europa no onze, frente a um adversário que tinha apenas cinco. Uma vergonha!  Tinha de ter goleado, tal como fez ao Sporting (7-0, e aí tinham de ter sido 14-0). É também inqualificável que tenha deixado a decisão do título para a última jornada. Não se faz. Creio que a medida imediata a tomar era o despedimento do treinador e a dispensa de grande parte do plantel. Temos de ser “exigentes”. Ser Tri-Campeão não chega. Menos de 14 títulos consecutivos nem dá para conversarmos. É sempre um fracasso. E, já agora, demitir também todos os responsáveis pela formação: só em 2025 conseguiram algo que deveria acontecer todos os anos (excepto, claro está, de 2003 para trás), o que é um insulto a Cosme Damião – que ganhava tudo, a todos e sempre de goleada.
Quem também já devia ter sido despedido, hoje mesmo, era o tanso do treinador de Basquetebol.
Conquistou o Tetra-Campeonato para o Benfica, esmagando o FC Porto no Dragão. Ele, pessoalmente, já tinha ganhado antes dois campeonatos pela Oliveirense (nos últimos oito anos só perdeu um). Mas o que interessa isso se perdeu a Taça da Liga – essa sim, a grande competição da temporada?

A equipa de Norberto Alves venceu 29 dos 31 jogos do campeonato. O motivo pelo qual perdeu os outros dois devia ser investigado, e dar direito a justa causa. Temos de ser “exigentes”. Ainda por cima, o homem teve o desplante de atender uma videochamada do Rui Costa a felicitá-lo. Não se atende o telefone ao presidente, nem a nenhum membro desta direcção corrupta e pedófila. Rua já com eles todos! Perder a Taça da Liga? Que vergonha...
No Futebol, como sabemos, a Taça da Liga não interessa nada, nem conta e devia acabar. Aliás, todos os troféus que o Benfica ganha deviam acabar, pois ao ganhar troféus ainda corremos o risco de alguns ignorantes quererem votar outra vez no Rui Costa, o que seria trágico. Já basta a tragédia que foi o “vieirismo”. Longos anos sem nenhum título. Até um "penta" se perdeu, vejam só. Nunca na sua história centenária o Benfica tinha passado pela suprema humilhação de perder um "penta". 
Há seis anos que o Futsal do Benfica não ganhava no Pavilhão João Rocha. Hoje ganhou, mas…nos penáltis. Uma vergonha! Tudo para a rua já! Então não é que falharam o livre directo a 16 segundos do fim? E estiveram sempre em vantagem? Que miserabilismo deixarem-se empatar e ter de decidir nos penáltis… É o benfiquinha que temos. Um clube morto e acabado. Eu não pago mais as quotas. Uma sombra do grande Benfica de antigamente, que ganhava todos os campeonatos de Futsal e goleava sempre o Sporting. Uma vez até chegou a ser Tri-Campeão. E mesmo Campeão Europeu. Mas isso, claro, antes do negro e obscuro “vierismo”, e de vinte anos de corrupção, compadrio e pedofilia. Não? Afinal parece que foi com Vieira. Sendo assim não interessa. Não falemos mais disso.
As vitórias são sempre para esquecer. Temos é de dizer mal, de vergastar, de chicotear, pois somos “exigentes”. Já com o Eusébio era assim: o desgraçado até foi apedrejado, e em 1970, nas redes sociais, toda a gente (ou um ou dois a fingir que eram mais) dizia que estava acabado, que tinha de ser dispensado como o Di Maria. Depois ganhou uma Bota de Ouro e três campeonatos, mas isso também não interessa, pois o sueco do Sporting ficou em segundo ou terceiro lugar, o que, obviamente, vale muito mais. O Inferno da Luz era conhecido como tal porque os 75 mil passavam o tempo a apupar e insultar os jogadores do Benfica. Isso é que era "exigência": assobiar sempre, insultar, agredir. Assim era obviamente mais fácil ganhar. Sob chicote todos trabalhamos muito mais e melhor. É dos livros.

Enfim. Dias como este deviam ser riscados do calendário. Tudo isto é uma vergonha. Este clube está moribundo. Há vinte anos que não ganha nada. Desde 2003 morreu, e não mais venceu troféus, nem sequer nas modalidades ou na formação. Uma desgraça.  Rua com todos!

O MEU PLANTEL

Ainda há Mundial, ainda há Carreras, Di Maria, Belotti, Renato. Mas avanço desde já aquela que seria a minha proposta para 2025-26, com 4 contratações cirúrgicas (investimento de cerca de 50 milhões, ou seja, o valor da venda de Carreras, arredondada com Arthur Cabral):

ALTA RODA

A participação do Benfica num novo Mundial criado pela FIFA para as 32 equipas que, segundo os critérios estabelecidos, melhor desempenho tiveram nos últimos anos, não pode deixar de ser um motivo de orgulho para os benfiquistas.
Esta participação não acontece por convite. O Benfica construiu o melhor ranking dos clubes portugueses nos últimos anos (está no top 15 da Europa), e é graças a isso, graças a resultados desportivos, que irá estar no Mundial. Não por ter mais adeptos, ou por fazer mais Assembleias Gerais, ou pela estética dos cânticos da claque. É sim por, em quatro anos, ter chegado duas vezes aos Quartos-de-Final da Champions (sendo a único clube fora dos "big five" nessas fases) e uma vez aos Oitavos - na outra temporada foi eliminado por penáltis nos Quartos da Liga Europa. É sim por, em quatro anos, tem vencido 25 jogos internacionais, dos quais 13 fora de portas. O FC Porto também estará presente (graças ao desempenho em 2023 e 2024). Mas se apenas houvesse lugar para um clube português, esse seria o Benfica.
Vivemos num tempo marcado por um intenso botabaixismo. E ao escrever isto, haverá logo quem pense, ou diga, ou escreva, que o faço para defender Rui Costa. Não, meus amigos, faço-o para defender o Benfica. O que me interessa no Benfica não são as politiquices, nem as AG, nem os estatutos, nem os candidatos a presidente: são os resultados desportivos. E se eles não são tão bons como qualquer benfiquista gostaria, também não são tão maus como aqueles que deles se servem como arma de arremesso querem fazer crer.. Mesmo que as vitórias sejam poucas, é delas que gosto de falar., pois sou orgulhosamente benfiquista.
Mais do que apresentação de candidatos ou protocandidatos, interessa-me ganhar ao Boca Juniors. Esta competição vai ser vista em todo o mundo. A imagem que o Benfica nela deixar é muito mais importante do que as visões paroquianas de parte dos seus adeptos.

À DÚZIA É MAIS BARATO

É certamente um sinal de vitalidade do clube. E se as coisas estivessem muito mal, talvez não aparecesse ninguém.
Para já temos João Diogo Manteigas, João Noronha Lopes, Cristóvão Carvalho e Martim Mayer. Estão por chegar Mauro Xavier, naturalmente Rui Costa, e talvez mais um ou dois ou três ou quatro. Alguns querem ser presidentes do Benfica. Outros querem apenas publicidade.
Nos próximos tempos vamos ter pois um forrobodó de "Benfica à Benfica", "Benfica tem de ganhar mais vezes", "Benfica tem de ter um rumo", "Benfica precisa de liderança", "Benfica tem de reter os talentos da formação", "Benfica não pode vender tanto", e outras pérolas da demagogia. Soluções? Nenhumas. Ideias? Poucas. Mais valia que prometessem o Jardel.
Fazer um manifesto eleitoral que soe bem aos ouvidos dos sócios é muito fácil. Se for trabalhado por reputados especialistas em comunicação, bem embrulhado numa cosmética atractiva, mais sedutor ele fica. Uma veloz difusão através dos Instagrams, Tiktoks e Facebooks, é a componente final e fatal. E assim, neste caldo, é possível a um valente demagogo ganhar as eleições do Benfica. Aliás, temo que isso venha a ser verdade para o próprio país. 
O mundo não volta para trás. Infelizmente, não me parece que as redes sociais e o seu potencial destrutivo venham a desaparecer tão depressa. Ou me engano muito ou a IA ainda vai trazer mais problemas a uma sociedade já de si demasiado inquieta, desequilibrada e insegura. Isto só se resolve, pois, com um elevar do grau de literacia - que exige um caminho de pedras e demora muito tempo a alcançar. E também, já agora, com menos polarização e mais serenidade. É preciso saber contextualizar (algo que está totalmente fora de moda) e também tolerar o erro dos outros, como gostaríamos que tolerassem o nosso - sendo que ninguém é perfeito, outro conceito absolutamente ultrapassado, sobretudo no seio de uma geração habituada a facilidades desde a infância, e que depois, convencida de que sabe tudo, choca de frente com os problemas da vida adulta.
As pessoas escolhem hoje sem ter noção das consequências das suas escolhas. Mobilizam-se pela negativa, apenas porque estão descontentes (queriam ganhar mais campeonatos, queriam ter um salário mais alto, ou simplesmente um emprego), e para penalizar quem tem poder, sem contextualizar, sem tolerar, sem valorizar nada do que têm, expondo-se assim totalmente a quem lhes canta o canto da sereia, não percebendo que podem ficar ainda pior. muito pior.
Voltemos ao início. Pensemos positivo. Se haver muita imigração é sinal de que o país não está assim tão mal (pior era quando os nossos tinham de partir para fugir à fome, antes dos "cinquenta anos de corrupção"), haver uma dúzia de candidatos à presidência do Benfica também quererá, talvez, dizer alguma coisa. 

TOCA A TODOS

Nem o Sporting, nem o presidente do Sporting, têm culpa daquilo que aconteceu após o jogo de Hóquei.
Trata-se de algo que, infelizmente, é comum aos principais clubes, e tem de ser resolvido fora do âmbito do desporto. São casos de polícia, que podiam, e deviam, estar há muito identificados e punidos. A quem frequenta os estádios, até parece relativamente fácil. Porque não acontece? Não sei.
O que não poderá acontecer é alguém voltar a acusar o Benfica, os benfiquistas ou os adeptos do Benfica, de terem feito isto aqui, matado aquele italiano ali, atirado um very light acolá. E isso já foi dito, não necessariamente por Frederico Varandas, mas por dirigentes do passado e do presente.
Quando se cospe para o ar, pode cair-nos em cima. E não há clubes de bem ou clubes de mal, nem clubes diferentes. Há clubes, há adeptos, e depois há estes cidadãos, que não me parece que sejam pessoas de bem - apesar de não terem nascido no Bangladesh.


PORTUGAL OLÉ!

FARTO DE AG'S

Farto de gritaria. Farto de insultos. Farto de uma ou duas gerações rasca (ou tasca), as das redes sociais, que estão a dar cabo do Benfica e vão dar cabo do país.
No país já são mais de 20%. No Benfica quero acreditar que sejam menos. Mas nas AG são 73%... Não percebem peva de contabilidade. Acham-se senhores de si para chumbar um orçamento. Só para desestabilizar,  fazer barulho, deitar abaixo.
Não é Rui Costa. Se for Noronha, ao fim de dois anos, ou é  bicampeão, ou será igualmente insultado, igualmente chumbado.
O Benfica que aprendi a amar não tinha nada a ver com isto. 
Esta gente acha-se dona da razão,  exige todos os seus caprichos já, de qualquer forma e a qualquer preço. Com absoluta intolerância,  com absoluta estupidez. Sem capacidade intelectual para filtrar a hemorragia de informação que lhe chega. Sem serenidade, sem equilíbrio, e exposta a todos os cantos de sereia.
Vergonha alheia. 

UM CLÁSSICO COM HISTÓRIA

Que melhor final para a Liga das Nações do que um duelo ibérico?  Será certamente o adversário com quem Portugal jogou mais vezes. E durante anos foi mesmo o único, ou dos poucos, com quem mediu forças. O balanço é francamente negativo. Em larga medida, diga-se, fruto dos registos mais antigos. Recentemente manda o equilíbrio: desde o Euro 2004, duas vitórias, duas derrotas, cinco empates.
Veremos o que acontece no domingo. Veremos se um conjunto de individualidades (Portugal) vence uma equipa coesa e organizada, que também tem as suas estrelas (Espanha). Veremos se Roberto Martinez tem o seu momento Fernando Santos, e consegue agarrar-se a um lugar que já não devia ser (ou nunca devia ter sido) seu. Veremos se Ronaldo marca mais um golo de baliza aberta ou de penálti que lhe permita compor as primeiras páginas do dia seguinte.
Este é o registo histórico dos jogos com "Nuestros Hermanos".


O onze que eu escolheria, obviamente sem o estorvo de uma glória do passado na frente:

O MITO DO FUTEBOL DE ATAQUE

O lema que se ouve e lê é agora: o Benfica gasta demais para os troféus que ganha.
Já aqui escrevi que não me parece justo avaliar o trabalho (de presidente, treinador e jogadores) apenas em função do resultado final. Este campeonato, por exemplo, tem muitos "ses" (desde logo, é preciso lembrar que Bruno Lage fez mais pontos que o Sporting). E esta Taça de Portugal teve um escandaloso "se", que ditou o vencedor. Se isso em nada diminui a nossa frustração, deve, pelo menos, deixar espaço para que a lucidez faça justiça àqueles que, em campo, no banco e nos gabinetes, pugnaram por merecer mais.
Apesar disso até concordo, em parte, com aquela afirmação Mas levo-a muito para além do mandato de Rui Costa, e mesmo de Vieira. Já nos anos oitenta e noventa do século passado me recordo do Benfica ter plantéis de luxo que perdiam para os Portos dos Kikis, dos Vlks, dos Tozés e Bandeirinhas. Havia Apitos Dourados, doping e tudo o mais. Mas havia também um Benfica com sapatos de veludo e um Porto de faca nos dentes.
Daí para cá, muitas vezes vi impor-se a retórica do futebol de ataque ou do futebol bonito, como se a matriz identitária do Benfica a isso obrigasse. Errado!
A matriz de base do Benfica é a de um clube popular e operário. Um clube lutador, como diz o hino. Que luta com fervor, e que só nessa luta nunca encontrou rival. Pois que estilo, perfume, futebol ofensivo ou bonito era jogado, por exemplo, pelos "Violinos" do Lumiar.
O Benfica chegou ao topo da Europa com uma equipa de combate, e ainda sem Eusébio. Depois, nos anos do "Pantera Negra" (que também não era, de todo, um jogador macio, tal como, aliás, Mário Coluna), os encarnados afirmaram uma superioridade clara sobre o seu rival português (não havia Porto), e sobre muitos adversários europeus. Isso criou uma imagem de domínio por via da classe, que jamais correspondeu ao antes ou ao depois dessa prodigiosa década.
O que acontece é que, como diz a velha máxima, se o ataque ganha jogos a defesa ganha campeonatos. Além disso, o talento é mais caro do que o músculo. E tenho para mim que tem havido, historicamente, algum equívoco do Benfica face a essas evidências.
As virtualidades do futebol de ataque morreram com o Brasil-Itália de 1982. Hoje, ou se tem os melhores artistas do mundo - que o Benfica não pode ter, que o futebol português não consegue reter e muito menos importar -, ou só há um caminho para a glória: defender com rigor e ser fisicamente mais forte. É essa a receita para um campeonato como o português. Foi essa a receita do Porto de Pinto da Costa, independentemente dos treinadores que por lá passaram durante anos, é essa a receita do Sporting desde Amorim, com os resultados que, infelizmente, conhecemos.
Por isso, meus amigos, é verdade que o Benfica gasta demais para o que ganha. Mas é preciso perceber que isso continuará a acontecer enquanto não se inverter toda uma filosofia de clube, que passa pelo presidente, pelo treinador, mas chega também aos adeptos. Estarão eles preparados para uma equipa construída a partir de trás? Que não marque assim tantos golos (que, pelo contrário, os saiba evitar)? Que se afirme pela robustez e não pela classe dos seus jogadores? Que saiba segurar resultados bloqueando o adversário? Seria um certo perfil de atleta bem recebido pelo Terceiro Anel, que continua a adorar toques de calcanhar, rabonas, verónicas e chicuelinas?
Vimos na última época o Benfica ser fustigado com críticas, após jogar bastante recuado em Munique. Perdeu 1-0. Podia, com uma pontinha de sorte, ter empatado 0-0. Nas outras vezes que lá foi saiu sempre goleado. Aceitariam os adeptos do Benfica ver a sua equipa jogar em Alvalade, no Dragão, ou até mesmo em casa com esses adversários, com as linhas baixas, apenas à espera do erro?
É pois toda uma cultura que está impregnada, desde logo nos adeptos (e, atenção, não me estou a excluir, pois às vezes também gosto de champanhe), que passa pela construção dos plantéis, pelo perfil dos jogadores, pela escolha dos treinadores (Jesus, Schmidt, Lage...), e que deveria, pelo menos, ser objecto de análise.
No fundo trata-se de escolher entre ser os melhores ou ser os primeiros. Resultadismo, se quisermos. Só assim poderíamos talvez ganhar mais, mas, desde logo, certamente gastar menos.

O QUE DIZ NORONHA

Não tive oportunidade para ler a entrevista ao "Record". Li superficialmente a que deu à "Bola". Gostei de algumas coisas, menos de outras.
Já aqui afirmei, noutra ocasião, que nada me move contra João Noronha Lopes. Pelo contrário. É da minha terra, e apesar de nunca ter tido ocasião de falar com ele, temos amigos em comum. Fui colega de escola de um irmão dele (com quem, entretanto, fui perdendo o contacto, tal como aconteceu com tantos outros), e fui aluno de um tio dele. Sei que se trata de uma pessoa honesta, oriunda de uma família honesta, muito respeitada na cidade. Sei também que tem uma vida pessoal e profissional bastante confortável, pelo que não precisa do Benfica para nada. Tem experiência de liderança e de gestão. Candidata-se de boa fé, e não à procura de protagonismo ou publicidade. Se um dia for presidente do Benfica, não deixarei de dormir descansado. Sei que não se trata de um Damásio, e muito menos de um Vale e Azevedo. E é bom aparecerem candidatos como ele, pois a democracia faz-se de boas alternativas.
Dito isto, importar perceber que, tal como o próprio afirma, não basta ser benfiquista para ser um bom presidente do Benfica. Eu acrescentaria que não basta ser honesto, nem bem intencionado ou até mesmo bom gestor. E, tanto quanto me parece, se Noronha Lopes poderia apresentar algumas mais-valias para o clube no plano financeiro, no plano comercial ou institucional, temo que lhe falte o mais importante: o conhecimento da verdadeira área de negócio, o futebol.
Recordo que alguns dos presidentes que passaram, por exemplo, pelo Sporting, tinham extraordinárias experiências de gestão ao mais alto nível. Eram honestos e bem intencionados. Eram ferrenhos sportinguistas. Foram maus presidentes. Falo de José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes ou mesmo José Roquette. E se não falo do FC Porto é porque conheci (conhecemos) apenas um - que não era honesto, não tinha boas experiências de gestão, nem era bem intencionado, mas ganhou tudo. 
Não me interpretem mal. Jamais defenderia um Pinto da Costa para o Benfica. E entendo que Vieira, e o seu estilo, também tiveram o seu tempo. Mas o desporto, o futebol em particular, é um meio tão específico, com tantos alçapões, que não é nada fácil de gerir, mesmo para quem vem de grandes empresas.
Noronha Lopes merece que leia e escute aquilo que ele quer dizer. Assim o faço. Mas até agora, apesar de manifestar excelentes intenções (com excepção do fim a Taça da Liga, que o Benfica venceu tantas vezes, e devia ser o clube mais interessado em defendê-la), ainda não me convenceu de que as coisas sejam tão fáceis de fazer como ele parece acreditar. Ou se quiserem, ainda não estou convencido de que Rui Costa, porventura mais bem acompanhado, não venha a ser um melhor presidente do que Noronha, e um melhor presidente do que ele próprio tem sido até aqui.

PS: Entretanto vi a apresentação da candidatura. Foi um espectáculo cenicamente bonito e carregado de mística. Não restam dúvidas de que o homem tem nível e tem carisma. Tem dinheiro (já sabia) e tem apoios de peso. Acredito que possa mesmo ganhar as eleições (nem sei, com franqueza, se Rui Costa se recandidata...). Mas, confesso, não pude deixar de me lembrar do "meu" manifesto eleitoral aqui publicado em jeito de ironia. Que o Benfica tem de ganhar mais vezes, todos sabemos. Não sabemos é como. Que gostávamos de manter o João Neves e todos os craques que formamos, também é verdade. Mas, vamos recusar, em Portugal, 65 milhões de euros por um jogador, seja ele qual for? Como pagar-lhe um milhão limpo por mês, que é o que ele aufere em Paris? Ou seja, as intenções são boas, mas são as de qualquer adepto. E propostas concretas não vejo. Primeiro passo: era imprescindível ter apresentado já um diretor desportivo convincente. 

APESAR DE MARTINEZ

Apesar de um seleccionador que a continua a torturar, a equipa nacional, repleta de individualidades de altíssimo quilate, venceu a Alemanha e está na final da Nations League.
Quando vi o onze inicial, pensei que Martinez queria mesmo era ser despedido já hoje. Dispondo daquela que é, seguramente, uma dos melhores, senão a melhor, dupla de centro-campistas da Europa (Vitinha e João Neves), o seleccionador entendeu colocar um a suplente e outro a lateral-direito (com Dalot e Semedo no banco). Depois há o caso Ronaldo, do qual já falei abundantemente, e que me parece uma questão de âmbito comercial, que começa a tornar-se penosa.
A equipa é uma espécie de frankenstein táctico que visa ajudar CR7 a alcançar os seus recordes. E assim se tem perdido uma verdadeira geração de Ouro, um plantel com muitas e boas opções para todos os lugares e para todos os sistemas.
Graças aos grandes jogadores que a compõem, a Selecção pode até ganhar esta Liga. Oxalá o consiga. Mas custa-me a aceitar que uma equipa que podia perfeitamente bater-se pelo triunfo no próximo Mundial, o vá disputar comandada por um homem que votou em Brozovic para Bola de Ouro, e cujas opções técnico-tácticas ninguém percebe.


DISSERTAÇÃO SOBRE O ERRO

Diz-se, e bem, que errar é humano. Mas para os presidentes do Benfica a velha máxima não se aplica. Sobretudo para os dois últimos, porque dos restantes, ou o conhecimento histórico escasseia, ou a memória se desvaneceu.
Sinal dos tempos. Sinal de uma ou duas gerações mimadas, que só sabem exigir. Que não sabem contextualizar. Que desprezam o conhecimento histórico. E até mesmo os factos. Que, por ignorância, se julgam donos da verdade. Que cedem ao imenso ruído decorrente da hemorragia comunicacional em que vivemos. A informação é muita, verdadeira e falsa; a inteligência, porém, manteve-se como dantes (pouca ou alguma, conforme a distribuição que Deus faz). O resultado é dramático, como se vê em vários planos da vida colectiva - não só no futebol, nem principalmente no futebol.
Na minha vida conheci dez presidentes do Benfica. Um número redondo e que dá para todos os gostos. E todos eles cometeram erros, uns mais graves que outros, uns mais marcantes que outros. Não há presidentes perfeitos. Não há mandatos perfeitos. E se já não os havia no mundo pré redes sociais estupidificantes, agora muito menos - ou julgam que o Noronha, o Manteigas, ou seja quem for que se seguir a Rui Costa, não vai ser igualmente triturado pelos que agora pedem a cabeça de toda a gente? Será uma questão de tempo, à semelhança do que antes já acontecia com os treinadores. O país e o mundo estão a ficar ao nível da taberna. E o Benfica, como clube popular, é uma vítima perfeita.

BORGES COUTINHO: Apanhei-o na infância, quando as estrelas eram os jogadores, e os dirigentes (que poucos conheciam) serviam apenas para ir à secretaria ao fim da tarde assinar cheques. Era um cavalheiro, com sólida formação. É apresentado muitas vezes como um exemplo. Mas, ainda assim, mesmo com Eusébio, mesmo com a grande equipa que herdou, nunca chegou a uma final europeia. No seu tempo, também não havia FC Porto, e o contexto não é negligenciável. Na festa de homenagem ao "King" desautorizou Jimmy Hagan, treinador tri-campeão. Este demitiu-se, o que possibilitou ao Sporting chegar ao título e impedir um até então inédito "Tetra". Erro histórico? Certamente.
Em 1975 desmantelou as equipas de Ciclismo e Hóquei em Patins, numa fase em que o profissionalismo tinha má fama. Livramento acabou no Sporting, onde foi campeão europeu. No balanço final, por culpas próprias ou alheias, deixou um Benfica globalmente mais frágil do que aquele que encontrou.

FERREIRA QUEIMADO: Entrou numa fase difícil, para juntar os cacos. Em 1977 teve oportunidade de resgatar Jordão (então emigrado em Espanha). Por meia dúzia de tostões e muita teimosia, permitiu que ele fosse para o Sporting - à semelhança, aliás, de Artur Correia. Na época seguinte a equipa não perdeu jogos, quase não sofreu golos, mas também poucos marcou (sem ...Jordão e com um Vítor Baptista totalmente alheado da realidade). Com demasiados empates 0-0, acabou por falhar mais uma vez o "Tetra", e permitir ao FC Porto recuperar de um jejum de 19 anos. Ficou três épocas sem ser campeão, algo que não acontecia desde o tempo dos "Cinco Violinos".

FERNANDO MARTINS: Outra figura glorificada como exemplo. O seu maior feito foi ter contratado Eriksson - que na altura chegou como ilustre desconhecido, e revolucionou o futebol encarnado. Mas depois... Em 1984 decidiu vender Chalana e Stromberg (nesse tempo sim, era decisão livre do clube manter os seu principais jogadores), para aumentar a lotação do estádio. O que é certo é que, menos de uma década depois, a generalização das transmissões televisivas transformou o novo terceiro anel num elefante branco quase sempre vazio. Nos anos noventa, chegou a haver jogos oficiais com apenas 5 mil pessoas - ou seja, com 115 mil lugares vagos. E a equipa nunca mais foi a mesma.
Teve uma relação de grande amizade com Pinto da Costa (ainda hoje o FC Porto fica no hotel da família sempre que se desloca a Lisboa), que foi bastante útil... para aquele. Foi com Fernando Martins que o FC Porto ascendeu ao topo do futebol português, no campo e fora dele. Foi também com Fernando Martins, lembremos, que o Benfica levou 7-1 em Alvalade - a sua maior derrota de sempre em jogos com rivais.

JOÃO SANTOS: Prometia um Benfica Europeu, e a verdade é que quase o conseguiu. Os encarnados voltaram, vinte anos depois (em 1988), à final da Taça dos Campeões, embora com um percurso açucarado, repetindo a façanha em 1990. Hoje seria criticado por perder ambas as finais. Enfim. Na altura o problema foi o preço a que isso ficou. João Santos gastou o que havia e o que não havia, e foram esses gastos faraónicos a originar a crise que se seguiu. Ainda assim, deixou sair Rui Águas para o FC Porto, o que, na altura, foi uma faca cravada na alma dos adeptos (eu ainda a sinto). Rompera relações com os portistas por causa de...Ademir Alcântara, fazendo lembrar que o Benfica pôs fim à política de não contratar estrangeiros para trazer...Jorge Gomes.

JORGE DE BRITO: Se o princípio do fim começou com os gastos sumptuosos de João Santos, com Jorge de Brito o Benfica caiu no abismo. Dizia o próprio, já em desespero, que não conhecia a situação financeira do clube. Estranho para quem enriquecera a especular na bolsa. Pelos vistos, havia quem, no clube, lhe escondesse a realidade. Quem o enganasse. Hoje chamavam-lhe, pelo menos, "Banana". Desviou João Pinto e Futre da rota do Sporting, o que valeu o súbito entusiasmo dos adeptos - mas, no segundo caso, uma polémica tremenda que atingiu o nível político, dado o facto de ter sido um adiantamento da RTP a financiar a contratação. Os salários? Logo se via. O resultado foi a falência do clube, os pagamentos em atraso durante meses a fio, e o famoso "Verão Quente", em que Paulo Sousa e Pacheco rescindiram unilateralmente os contratos (João Pinto ainda foi resgatado a tempo, e Rui Costa recusou a proposta), naquilo que foi uma das maiores humilhações da história do Benfica. Títulos? Uma Taça de Portugal, com um plantel de luxo, mas que não recebia salários havia meses. O clube entrava na sua pior fase de sempre.

MANUEL DAMÁSIO: Herdou um clube completamente descapitalizado, descaracterizado, desorganizado, e conseguiu... fazer ainda pior. Acredito na honestidade da pessoa, mas a sua candura e total incompetência, não só desmantelaram o Benfica, como colocaram o futebol português definitivamente nas mãos de Pinto da Costa - que chegou a presidir à Liga e, com o Benfica a dormir, pôde completar o puzzle que lhe permitiu dominar tudo e todos (árbitros, dirigentes, adversários, etc), de modo a que só a bola permanecesse redonda. Os erros sucederam-se. Primeiro demitiu Toni (que havia ganhado um campeonato com os jogadores sem receber) para trazer um Artur Jorge totalmente desfasado da filosofia do clube. De seguida, não só manteve Artur Jorge após uma época desastrosa, como o deixou fazer, com total liberdade, uma limpeza de balneário que deitou fora nomes como Neno, Veloso, Mozer, Paulo Madeira, William, Abel Xavier, Vitor Paneira, Isaías e César Brito (o que, para além das vendas de Rui Costa e Schwarz, e das dispensas dos russos Kulkov e Yuran, deixou o plantel quase a zeros). Depois... demitiu o treinador logo após a terceira jornada da época seguinte. Ou seja, ficou sem jogadores, sem o treinador que os dispensou, e sem dinheiro para refazer a equipa. Uma tempestade perfeita. O Benfica entrava definitivamente no seu "Vietname", abrindo caminho ao populismo.

VALE E AZEVEDO: A lição que devemos aprender é que quando as coisas estão muito mal é sempre possível ficarem ainda pior. Sobre Vale e Azevedo não há muito a dizer. O seu nome diz tudo. Tenho a consciência tranquila de ter votado sempre contra ele, e de ter ido, pela primeira vez, a Assembleias Gerais, apenas para votar contra as suas propostas - mesmo com o pavilhão cheio de gorilas à lá Macaco, e cabeças partidas à saída. Obviamente o Benfica não ganhou nada, levou 7-0 em Vigo, viu serem desmanteladas modalidades, viu ser vendido património ao desbarato (com as comissões a voarem para o bolso do presidente), viu o seu nome manchado no mercado internacional por não pagar as transferências, teve seis treinadores em três anos, dispensou João Pinto a custo zero. Enfim, o Benfica bateu no fundo, e nessa altura lembro-me de me questionar se alguma vez poderia voltar a conquistar títulos, ou se, como temia, se iria transformar numa espécie de Belenenses.

MANUEL VILARINHO: Ninguém lhe tira o mérito de salvar o clube das mãos do vigarista que lhe antecedeu, nem de o ter credibilizado aos olhos dos inúmeros credores que batiam à porta da Luz a solicitar o dinheiro que lhes era devido. Numa parceria com o BES (na altura o dono daquilo tudo), pagou dívidas, abriu espaço para a construção do novo Estádio, coisa em que, na altura, poucos acreditavam, mas fica ligado às piores classificações de sempre da equipa de futebol - que em duas épocas consecutivas (6º e 4º) nem sequer se apurou para a Taça UEFA - bem como a uma vergonhosa eliminação na Taça de Portugal, em casa, aos pés do Gondomar. É claro que, naquele contexto, a prioridade não podia ser desportiva. Mas não era preciso descer tão baixo, até porque o treinador que lá estava era...José Mourinho, o efeito começava a sentir-se (aqueles 3-0 ao Sporting...), e foi Vilarinho que o despediu para trazer Toni - que mais tarde despediu também. 

LUÍS FILIPE VIEIRA: Um dia será possível fazer um balanço definitivo da presidência de Vieira. Esse dia só acontecerá quando se provar, ou não, em sede da Justiça, as práticas lesivas de que é suspeito. Mas se isso entra, ou não, no seu passivo, o seu activo está repleto de obras e conquistas que ninguém pode apagar. É o presidente que mais títulos conquistou, que mais campeonatos venceu, sendo juntamente com Adolfo Vieira de Brito e João Santos um dos que mais finais europeias disputou (duas, ainda que, no seu caso, apenas na Liga Europa). Nas modalidades não tem paralelo com mais ninguém: campeão europeu de Futsal, duas vezes campeão europeu de Hóquei em Patins, finais europeias em Andebol e Voleibol, domínio nacional absoluto do Basquetebol, várias medalhas olímpicas, entrada esmagadora no desporto feminino com títulos atrás de títulos em todas as modalidades. Insistiu numa aposta na formação de jogadores em dimensão e amplitude nunca vistas em toda a história do clube (hoje a base da Selecção Nacional), e que valeu vendas milionárias que tornaram o Benfica o clube mais rico do país. Contratou alguns dos maiores jogadores que alguma vez vestiram o "Manto Sagrado", como Simão, regresso de Rui Costa, Aimar, Saviola, Di Maria, Oblak, Ederson, Cardozo, David Luíz, Matic, Luisão, Jonas, Fejsa, Garay, Salvio, Gaitán, Gimaldo, Darwin entre outros. Quanto a obras: Estádio, Centro de Estágio, Museu, Pavilhões. Profissionalizou da gestão do clube e da SAD, em linha com aquilo que já acontecia nos principais emblemas europeus. Revitalizou o Jornal, criou a BTV e o Site. Obteve patrocínios sem paralelo face aos outros clubes portugueses e face ao passado do próprio clube. Aumentou exponencialmente o número de sócios. Inverteu o ciclo de poder nos bastidores do futebol português. Conquistou um inédito Tetra, chegou a ter o Benfica em 5º lugar no ranking da UEFA. Foi Vieira que nos devolveu o orgulho de ser benfiquistas, bastante abalado na década que o precedeu. Pena, de facto, que no último mandato estivesse mais preocupado com a sua própria pele do que com o clube que conduzira até então, deixando uma imagem final pouco compatível com o seu imponente legado.

RUI COSTA: Herdou o clube na crise institucional decorrente dos factos ocorridos no último mandato de Vieira, e dividido entre os leais ao antigo presidente, aqueles que queriam mudar alguma coisa e os que queriam deitar tudo abaixo. Entrou com força e dinamismo, devolveu o Benfica aos títulos e às boas prestações internacionais. Contratou com maior assertividade (Trubin, Bah, Enzo, Aursnes, Neres, Carreras, Di Maria, Kokçu, Akturkoglu, Pavlidis), embora no mercado do verão de 2023 tenha falhado em dois casos flagrantes  (Jurasek e Arthur Cabral), com custos desportivos inegáveis.
Manteve a aposta na formação (conquistou a Youth League) e reforçou-a nas modalidades, obtendo o maior triunfo da história do Andebol português (European League).
Pecou por candura quanto às arbitragens, ignorando os primeiros sinais de perigo. E nas estruturas internas do clube podia, e devia, ter mexido mais, não permitindo algum aburguesamento de quem o rodeava.
Em 2022-23 teve uma época imaculada. Em 2023-24, aqueles erros na abordagem ao mercado (sobretudo se pensarmos que o Sporting foi buscar o tanque sueco) terão custado o campeonato. E nesta última temporada, além das influências exteriores, também não teve sorte.
Pagou ainda o preço de um novo tempo, no futebol, no desporto, no país, e no mundo. Um tempo extremamente polarizado, em que qualquer poder encontra imensa dificuldade em resistir ao ataque brutal de um negativismo quase patológico, potenciado por ferramentas de partilha que o elevam da tasca a discurso dominante.
Ainda tem trabalho a fazer, e não só não tenho motivos para não acreditar que o faça, como não vejo, por agora, ninguém que o possa fazer melhor.

CONCLUSÃO
Enfim, estas são algumas notas sobre os últimos presidentes do Benfica. Pedaços de história que vão desde a década de setenta até hoje. Como se percebe, todos eles tiveram os seus momentos menos felizes. Ninguém acertou sempre. Alguns erraram mesmo muito. Até demasiado. O passado é muitas vezes trazido sob o manto do mito e da nostalgia. Quando vamos a factos, nem tudo é tão reluzente como alguns (curiosamente, mais aqueles que não o viveram) querem agora fazer crer. O que significa que o presente também não é assim tão negro.
Isto serve para defender Rui Costa, como poderá servir para defender um outro presidente que lhe venha a suceder. O problema não está no Benfica, nem na direcção do Benfica. Nem sequer no futebol ou no desporto. O maior problema está na sociedade que (sobretudo) algumas gerações estão a alimentar, e que caminha toda ela para o abismo, de mão dada com as redes sociais, a ignorância, a estupidez e os populismos.

MANIFESTO ELEITORAL

- Um Benfica ganhador, que vença, pelo menos, metade dos campeonatos nacionais;
- Um Benfica europeu, que chegue sempre, pelo menos, aos Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões ;
- Um Benfica que aposte na Formação e retenha as suas pérolas durante mais tempo;
- Um Benfica que privilegie a vertente desportiva sem descurar a sustentabilidade financeira;
- Um Benfica eclético, que seja dominador nas modalidades;
- Um Benfica que lidere o processo de centralização de direitos televisivos;
- Um Benfica influente junto dos poderes do futebol português;
-Um Benfica dos sócios, onde estes sejam voz activa em todos os momentos determinantes para o clube;
- Mais algumas banalidades que a imaginação (ou falta dela) possa produzir, concluindo talvez com um estrondoso "Benfica à Benfica".

Não, não me vou candidatar à presidência do Benfica. Ao contrário de outros, tenho noção das minhas limitações, não preciso de publicidade e tenho mais que fazer.
Mas, como qualquer indivíduo com a 4ª classe, também sei escrever manifestos eleitorais demagógicos, lembrando-me de alguém que, na vida política, chegou a fazer manifestações contra a ...corrupção, e até mesmo contra a...pedofilia (essa prática lúdica que divide os portugueses entre os que são a favor e os que, sabe-se lá porquê, são contra).
Manifestar intenções é fácil. Sobretudo quando são as intenções de todos, das quais ninguém discorda. É como aquelas músicas que entram logo no ouvido, mas depressa cansam.
Por isso, qualquer candidato que venha com conversas deste género, merecerá de imediato a minha total reprovação. Merecerá um carimbo de demagogia e populismo barato.
Não me interessa nada saber o que os candidatos pretendem para o Benfica. Se forem pessoas honestas, todos pretendem o mesmo: ganhar. Se forem vigaristas, talvez pretendam outras coisas - embora não as enunciem. Também não me interessa elencar erros cometidos no passado, pois Totobolas à segunda-feira também eu faço. 
O que eu quero saber de quem se candidata não é o que pretende para o futuro. É sim, de que forma, por que vias, e com que alternativas, o vai conseguir. E aí tem de haver detalhe, não bastando disparar para o ar meia dúzia de quimeras semanticamente aperaltadas. 
De Rui Costa sei que, em quatro anos, ganhou um Campeonato, uma Taça da Liga e uma Supertaça. Sei também (sabemos todos, não é?) como perdeu o último Campeonato e a última Taça de Portugal. No plano internacional foi duas vezes aos Quartos-de-Final da Champions, uma aos Oitavos, e na outra temporada foi eliminado por penáltis nos Quartos-de-Final da Liga Europa. Neste período, o Benfica venceu 25 jogos internacionais (a ainda falta o Mundial), mais do que em toda a década de setenta. E está no top 15 do ranking da UEFA, tendo por isso acesso ao Mundial de Clubes. Nas cinco principais modalidades masculinas ganhou sete Campeonatos, e mais 17 troféus (entre os quais a maior conquista de sempre do Andebol português: a European League). Nas cinco modalidades femininas, mais o futebol feminino, ganhou 18 Campeonatos e outros 44 troféus. No futebol formação ganhou seis dos dez Campeonatos que disputou, e ainda venceu a Youth League e a Intercontinental.
Quanto a contratações, temos, entre outros, Trubin, Bah, Carreras, Enzo Fernandez, Aursnes, Neres, Di Maria, Pavlidis, Kokçu, Akturkoglu, Manu Silva, Marcos Leonardo, Schjelderup, Prestianni, Dahl, Barreiro, Amdouni, Gonçalo Guedes. Também houve tiros ao lado. Alguns por lesão (Draxler, Bernat e Renato), outros porque as apostas nem sempre rendem o esperado, como em qualquer clube.
Enfim, Rui Costa tem isto para mostrar. Se alguém me garantisse que faria melhor, e mostrasse cabalmente como, teria o meu apoio. Vou esperar sentado até Outubro.

PARABÉNS, MIÚDOS!