"O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais do que isso !" BILL SHANKLY
...E NO FIM GANHAM OS ALEMÃES
Sofrer dois golos no período de descontos, quando a vitória parecia assegurada, e, com ela, a manutenção da esperança na qualificação para os oitavos-de-final da Champions League - com 0-2, bastaria uma simples vitória na Luz sobre o Zenit para a garantir - é cruel, doloroso e frustante.
Nestas alturas os adeptos tendem a procurar razões e culpados, e com isso expulsar do corpo e da alma um estado de espírito necessariamente negativo. Dizer que o treinador tomou a opção A quando deveria ter tomado a B, que o jogador X não esteve à altura e que o Y não deveria ter jogado, quando não, embarcando num radicalismo estéril, querer despedir aquele e dispensar estes.
Ora eu olho para o jogo de Leipzig e não vejo muito por onde pegar. O onze foi bem escolhido, a estratégia foi bem montada, e certeira até aos 90 minutos. Os jogadores deram tudo, correram, lutaram e mereciam melhor sorte. As substituições foram bem feitas? Foram tardias? Aí entramos no Totobola à segunda-feira. O Benfica estava a jogar bem, tinha aparentemente o jogo na mão, e tudo parecia perfeito. Falar agora é fácil, mas eu, naquela altura, teria feito o mesmo.
É assim o futebol. Tem razões que a razão desconhece, e neste caso uma delas é óbvia: o Leipzig é melhor equipa do que o Benfica, tem jogadores que podem decidir, e nese caso foi isso que aconteceu. Já não se esperava, e daí a crueldade do destino, pois empatar 2-2 no terreno do segundo classificado da Bundesliga, em condições normais, seria tudo menos um mau resultado.
Se Ruben Dias não tivesse feito o penálti. Se o cabeceamento de Forsberg batesse no poste ou fosse para fora como sucedeu com vários lances na área do Benfica ao longo dos noventa minutos. Se, se, se. A verdade é que os alemães, fazendo justiça à máxima de Gary Lineker, acabaram por levar a água ao seu moínho, e os encarnados ficaram ingloriamente fora da Liga dos Campeões. Sendo que essa eliminação não se deve a este jogo, mas sim aos que o precederam - a começar pela derrota na Luz com esta mesma equipa.
Resta a esperança na Liga Europa. Pouco, muito pouco para quem passou 89 minutos a sonhar.
Agora...ganhar ao Marítimo!
PIZZI E MAIS DEZ
Depois de uma primeira parte medonha, o Benfica, conduzido pelo "comandante" Pizzi renasceu das cinzas e conseguiu a sua décima vitória nos primeiros onze jogos - registo que só encontra paralelo em...1983.
Ficou demonstrado que Pizzi é indispensável nesta equipa, mais a mais dada a ausência prolongada de Rafa. O transmontano é, neste momento, o único que dá critério ao meio-campo ofensivo do Benfica, além de que vai mantendo a veia goleadora que faz dele o líder dos artilheiros.
Ninguém sabe se, com ele em campo desde início, a história de Lyon poderia ou não ter sido diferente. Mas não havia necessidade de ter essa dúvida, pois não?
PARA QUEM AINDA NÃO TENHA PERCEBIDO
ORÇAMENTOS ANUAIS DAS EQUIPAS DO GRUPO G DA CHAMPIONS LEAGUE:
LYON...........310 M
LEIPZIG......165 M
ZENIT..........160 M
BENFICA......90 M
LYON...........310 M
LEIPZIG......165 M
ZENIT..........160 M
BENFICA......90 M
ISTO EXPLICA MUITA COISA
JOGOS NA CHAMPIONS LEAGUE NO INÍCIO DESTA TEMPORADA:
ODYSSEAS | 6 |
T. TAVARES | 0 |
FERRO | 0 |
RUBEN DIAS | 7 |
GRIMALDO | 14 |
FLORENTINO | 0 |
GABRIEL | 4 |
GEDSON | 6 |
CERVI | 16 |
VINICIUS | 0 |
CHIQUINHO | 0 |
ESTA PROVA NÃO É PARA CRIANÇAS
Tomás Tavares, Ruben Dias, Ferro, Florentino e Gedson. Cinco jogadores
da formação no onze inicial. Cinco jogadores que há pouco tempo jogavam na 2ª
divisão portuguesa, tal como, aliás, Chiquinho e Vinicius. Média de idades de
22 anos.
Ora na Liga dos Campeões estão as melhores equipas do mundo. E, mais
do que isso, jogam com tudo. Para lá estar é preciso maturidade e classe. Não
me parece apropriado, nesse contexto, deixar de fora aqueles que eram, à
partida, os três elementos com maior experiência à disposição de Lage: André
Almeida, Pizzi e Seferovic. O Benfica já não tinha Rafa (o seu melhor jogador),
e sem aqueles três (sendo assim, quatro) perdeu personalidade, expondo-se ao
erro – próprio de quem ainda está em processo de aprendizagem, mas desadequado
para o palco em questão.
Luís Filipe Vieira diz que um Benfica europeu só é possível a partir
do Seixal. Talvez seja verdade, mas com jogadores de 26/27 anos, mantidos no
plantel durante vários anos. Com andamento, rodagem e presença para actuar nestas
andanças, onde cada erro se paga caro. Imagine-se, neste momento, Ederson,
Oblak, Semedo, Cancelo, Lindelof, André Gomes, Renato, Guedes, Bernardo e Felix
juntos. Tivesse sido possível segurá-los (e não era), então sim, talvez
houvesse Benfica “europeu”.
Este Benfica, tal como se apresentou em Lyon, mas também na Rússia,
não tem estofo para a Liga dos Campeões, sendo mesmo dos conjuntos mais fracos
que por lá anda. Há ali bastante talento, mas em alguns casos não há mais nada –
nem física, nem táctica, nem em qualquer outro parâmetro competitivo. Há
jogadores demasiado verdes para a titularidade (correndo o risco de ser
queimados nesta fogueira), outros que não são tão bons como se pensa, e a
agravar, também se vê uma ideologia táctica demasiado romântica, como se o
Zenit, o Leipzig ou o Lyon, fossem o Tondela, o Moreirense e o Desportivo das
Aves.
A Liga Portuguesa está moribunda. O Sporting é o que se vê, o FC Porto
nada tem a ver com os grandes FC Portos do passado recente, e até o Braga está
em crise. Os outros são, genericamente, equipas medíocres, que só defendem e
mal. O equilíbrio é feito por baixo, e isso dá uma imagem distorcida do real valor
deste Benfica, que entre portas consegue ser dominador, mas de Badajoz para lá é demasiado pequenino para qualquer ambição.
Se a aposta é no Campeonato, então há que assumir que a Europa é
apenas para garantir o dinheiro da presença (o que não é pouco), e dar minutos
a jogadores menos utilizados. O risco é ser enxovalhado, mas isso, nesta
temporada, sabe Deus como, tem sido evitado. Se se quer um pouco mais do que
isso (não só o presidente, também o treinador o disse), então a abordagem tem
de ser diferente. E se havia que poupar André Almeida e Pizzi, então tinham
sido poupados com o Rio Ave.
Resta sonhar com a Liga Europa, e reflectir sobre aquilo que se quer,
verdadeiramente, para o futuro próximo: formar jovens, alicerçar a equipa-base
neles (para os mostrar, e depois vender), ganhar alguns campeonatos e continuar a ser pequenino lá fora, ou, mantendo os maiores talentos da academia, investir em alguns jogadores feitos (Cardozos, Aimares, Saviolas, Garays, Gaitáns
etc) e utilizá-los diante dos adversários mais fortes – que são, inquestionavelmente,
os da Champions? Por mim, aceito e percebo qualquer uma das duas opções,
dependendo da margem financeira que exista para a levar a cabo. O que não pode
é haver um discurso totalmente dissonante da realidade.
RETOMA
O jogo com o Portimonense já havia trazido boas sensações. Esta partida com o Rio Ave, sobretudo na 2ª parte, confirmou a tendência, e mostrou um Benfica já perto do nível da época passada: pressionante, dominador, empolgante. Terá faltado maior eficácia para ser igualmente goleador.
A chave parece encontrada. Chiquinho está longe de ser um João Félix ou um Jonas. Mas é, neste plantel, quem melhor preenche essa posição, o que dá equilíbrio ofensivo à equipa, proporcionando espaços para outros poderem brilhar e marcar.
Acredito que em Lyon Seferovic regresse ao onze. E essa poderá ser uma rotação interessante, com Vinicius nos jogos em casa, e o suíço nas partidas onde é preciso defender melhor e a partir da primeira linha de construção adversária.
Para já, a confiança está retomada, e o período de menos fulgor parece utrapassado...com vitórias. E vão 9 em 10 jornadas, o que há décadas não acontecia.
LIONN E O FC PORTO
Quem não viu os golos do FC Porto frente ao Famalicão, veja. São ...engraçados.
Lionn é um dos protagonistas.
Como mero dado estatístico, deixo os resultados das equipas de Lionn que defrontaram os dragões desde que ele veio para Portugal. A média de golos por jogo dos portistas contra as equipas de Lionn é de 3,0. A média geral de golos do FC Porto nesses campeonatos é de 2,1.
Tudo derrotas, excepto um empate. Sim um, pois o empate de 2012-13 não conta: Lionn entrou em campo estava o Rio Ave a ganhar 2-0. Perecebe-se a entrada de um defesa nessas circunstâncias. Mas Lionn não é um defesa qualquer, e o resultado final foi... 2-2.
É caso para dizer, Lionn amigo, o Porto está contigo.