A LEI DO MAIS FORTE

"Identifiquei aqui, na passada semana, cinco aspectos específicos em que, na minha modesta opinião, o futebol do Benfica podia melhorar. O primeiro que referi, e, porventura, o mais notório de todos eles, prende-se com o perfil físico-atlético do plantel – que, quanto à sua robustez, fica claramente a dever ao do principal rival.

A situação não é nova, e já em 2008, num artigo intitulado “Gladiadores e Artesãos”, eu a trouxe a estas páginas. De facto, há muitos anos que vemos equipas portistas invariavelmente constituídas por verdadeiros “armários”, face a um Benfica de perfil quase sempre mais artístico, mais perfumado, mais requintado, mas também muito mais macio. Tal facto é, de resto, extensível às restantes modalidades, sendo patente uma superioridade física azul-e-branca em quase todas as principais frentes de batalha do desporto português, do Futebol ao Hóquei em Patins, do Andebol aos vários escalões de formação. Este crónico défice atlético, que salta à vista do mais desatento, explica, quanto a mim, muitos dos desaires sofridos ao longo dos anos ante o grande rival. No caso do Futebol (aqui em análise), acresce ainda que, num campeonato como o português, onde predominam equipas fechadas e agressivas, e se joga em campos pequenos e com relvados miseráveis, essa vertente física assume relevância acrescida, estabelecendo diferenças, e determinando campeões.

Há que dizer que, quando se fala de robustez física, não se fala apenas de jogadores com um metro e noventa e cinco de altura, ou noventa quilos de peso. Estamos também a falar de atletas cujo fulgor, cuja resistência, cuja agressividade, cuja combatividade, cuja força, os tornam mais poderosos em campo. Se também forem altos (e pelo menos metade da equipa convém que o seja), tanto melhor. Mas há jogadores fortes, resistentes e agressivos, que, não sendo gigantes em altura, são-no em combatividade. Temos, de resto, dois bons exemplos no plantel da época finda: Maxi Pereira e Fábio Coentrão.

Não é só no plano estritamente desportivo que a importância de uma equipa mais volumosa e mais viril se coloca. O mercado diz-nos que o talento se faz pagar melhor que o músculo, de onde inferimos que uma equipa eventualmente menos empolgante do ponto de vista plástico, mas mais robusta na hora de conquistar a bola, no momento de correr com ela, ou atrás dela, na forma de ocupar espaços em campo, ou de ganhar duelos individuais, poderia também ficar mais em conta para a nossa bolsa. Poderíamos pois, com ela, vencer em dois tabuleiros: o desportivo, e o económico. E se não encantássemos as plateias com arte (o que não é totalmente líquido, pois a beleza do futebol está, sobretudo, nas movimentações colectivas), encantaríamos com resultados, trazendo com eles maiores valorizações marginais a cada jogador. Eu, pela minha parte, não tenho dúvidas sobre aquilo que preferia.

Esta mudança de paradigma, que implica um olhar diferente sobre o próprio perfil do negócio – valorizando as individualidades a partir do todo, e evitando a compra avulsa de talento -, não pode ser efectuada de forma repentina, nem de ânimo leve. Temos grandes jogadores, que não correspondem ao perfil que aqui defendo (o que não diminui a minha admiração por eles), e cujo contributo não seria avisado desperdiçar. Existe uma base, que foi campeã há pouco mais de um ano, e é a partir dela que, pouco a pouco, devemos proceder aos acertos que se justifiquem. Não podemos perder-lhe totalmente o rasto, tendo sempre presente que foi de revolução em revolução que chegámos ao ponto em que estávamos quando, in-extremis, Manuel Vilarinho resgatou o clube do abismo. Seria suicidário entrarmos novamente numa espiral desse tipo, pelo que a estabilidade é também um valor a preservar na nossa casa.

Seria todavia interessante que, em decisões futuras, esta preocupação fosse tomada em conta, de modo a que cada jogo entre FC Porto e Benfica não tivesse de se assemelhar, no plano físico, uma repetida reedição do lendário combate entre David e Golias. É verdade que David ganhou uma vez, e foi essa excepção que deu corpo à lenda. Mas quantos Golias triunfantes não terá a história deixado cair para as suas notas de rodapé?

O futebol é um jogo, onde interessa ganhar. E é um desporto, em que os mais robustos, os mais rápidos, e os mais ágeis, levam franca, e decisiva, vantagem. É a correr e a lutar que se ganha, e para o conseguir, há que ser mais forte que o adversário. Um artista, bem integrado num colectivo forte, combativo e musculado, pode fazer a diferença. Uma equipa de artistas, sobretudo em Portugal, acabará sempre ingloriamente derrotada."

LF no Jornal "O Benfica" de 10/06/2011

11 comentários:

  1. A respeito do fisico so digo que simplesmente acho muito estranho o poderio fisico do Benfica do passado e a diferenca que foi para este ano. Ja o Porto foi o inverso. Parece-me evidente que ha muitos jogos de bastidores e de movimentos de peoes, neste caso com passagem pelo controlo antidoping, que nem nos passa pela cabeca.

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  2. Anónimo13.6.11

    Lol. O Barça de Xavi, Iniesta, Pedro, Villa, Messi é um exemplo disso... até mesmo a novo rumo que a seleção de França quer tomar excluindo os "armarios" franco-africanos e dando espaço a jogadores baixos e técnicistas como Ribéry, Valbuena ou Marvin Martin...

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  3. O Barça é a excepção que confirma a regra.
    Se o Benfica pudesse ter Xavi, Iniesta e Messi, estaria encantado da vida.

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  4. Vitória do Benfica13.6.11

    Concordo consigo, Luis. Mas infelizmente é muito mais que a robustez fisica que que existe sucesso no FCP. Veja-se João Moutinho o sucesso que tem ou veja-se Falcão. Não são por aí alem. Há outras tramoias que infelizmente atletas com a furia de vencer não se coibem de fazer. São necessários aos benfica mais jogadores do tipo Luisão. Um atleta inteligente, fução e com grande poder atlético. Mas tivesse o Benfica o LORD (Laboratório de Optimização do Rendimento Desportivo) a funcionar como tem o FCP liga-se o Benfica mais ao conhecimento cientifico e tecnico e seria o Benfica bem melhor, pense-se que no seu tempo Bela Gutman fazia parte do topo da elite desportiva mundial.

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  5. Belo texto, com ideias bem fundamentadas, como é, aliás, apanágio deste sítio, contudo apraz-me deixar apenas uma singela questão: onde entra o Barcelona neste argumentário?

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  6. Anónimo14.6.11

    Pois ... e na liga dos campeões também perderam porque as equipas adversárias jogam em campos pequenos... É só rir com as tangas do Benfica. Enquanto não virem que não têm ninguém que pense no futebol como ele deve ser pensado, vão continuar a maravilhar-nos com estas desculpas inventadas para justificar o apoio incondicional a uma estrutura que já deu provas do seu real valor. Só vocês não querem ver. O Sporting parece estar a aprender.

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  7. Anónimo14.6.11

    "ARTISTAS" NO BENFICA???

    hahahahaha
    deixa-me rir

    os artistas estão no FCPorto, Hulk, Falcão, Moutinho, Varela, James, Belushi...

    arranjam cada desculpa, quando perdem!!!

    zé do boné

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  8. Que os responsáveis corruptos só têm preferência por jogadores musculados, tipo estivadores, já se sabia há muito; só que ninguém sabe nem diz porquê, mas está bem á vista. Esses ditos atletas são os que aguentam melhor o doping que, administrado de forma científica como lá fazem, resulta integralmente e nunca falha. Ou alguém pensa que todos os homens podem actuar como máquinas só com preparação e treinos?

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  9. Em relação ao poder físico dos jogadores portistas há de certeza algo que não sabemos...

    Visitem o novo: http://www.3gloriosaspalavras.blogspot.com/

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  10. E uma palavrinha sobre a dispensa do Nuno Gomes, caro LF.

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  11. É pena não haver complexo vitaminico que salve o berlinde que teem no lugar do cerebro!
    Vocês são patéticos!
    Vocês não se houvem ( ou melhor,não se lêem?)
    É a recusa irracional em reconhecer mérito ao adversário!
    Pobres mentes doentias que colocam em causa a honestidade e a competencia dos outros com a ligeireza dos pobres de espirito!

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