ARRIVERDECI !

Segundo as últimas notícias provenientes de Itália, parece definitivamente consumada a saída de Fabrizio Miccoli do Benfica. Os adeptos do clube da Luz choram agora um dos jogadores que mais empatia criou com as bancadas nos últimos anos. A equipa perde um elemento de inegável classe.
Mas fará assim tanta falta ao Benfica um jogador com o perfil do “Pequeno Bombardeiro” ? Talvez não.
Miccoli chegou ao Benfica nos últimos dias do mercado de transferências de Agosto de 2005. Estreou-se em Alvalade, onde exibiu bons pormenores, e dias depois frente ao Lille para a Liga dos Campeões arrancou uma exibição portentosa – talvez a melhor que efectuou em Portugal – que desde logo cativou as simpatias do Terceiro Anel. Após mais um ou dois jogos mais discretos, acabou por se lesionar, uma, duas, três vezes, e pouco mais de significativo fez nessa temporada, à excepção do golo em Anfield Road onde, aliás, saíra do banco já na segunda parte.
Na primeira época na Luz, o avançado italiano fez apenas 19 jogos a titular, dos 44 que a equipa disputou entre Campeonato e Champions, ou seja, bem menos de metade das partidas. Mesmo nos jogos que realizou, Miccoli apenas brilhou em não mais de uns sete ou oito, passando discretamente pelos relvados nos restantes, onde muitas vezes se arrastou com manifesto excesso de peso, ou se perdeu em individualismos estéreis.
Até perto do final da sua segunda época na Luz o panorama não se alterou, o que inclusivamente originou uma tomada de posição pública por parte de Fernando Santos sobre o caso, afirmando, e bem, ser de exigir muito mais ao talentoso avançado.
Quando faltavam cinco jornadas para terminar a Liga Portuguesa, Miccoli tinha jogado como titular em apenas 18 dos 35 jogos que o Benfica efectuara nas duas principais competições em que participou em 2006-2007, tendo nas mesmas marcado 7 golos (em 2005-2006 apontara 6). Estimo que nestas 18 participações, o transalpino tenha sido determinante em não mais de uma meia dúzia, o que pode ser confirmado consultando por exemplo a pontuação que lhe foi atribuída pelo jornal “A Bola”, disponível nos arquivos da sua edição electrónica.
Portanto, antes deste seu assomo final de meia dúzia de jogos a facturar e a brilhar, Fabrizio Miccoli tinha realizado 37 das 79 partidas do Benfica para Campeoanto e Champions - o que representa cerca de 47 % do total da equipa - nas quais terá tido um desempenho acima da média apenas em cerca de, vá lá, 15 jogos. Resumindo, o grande Miccoli, idolatrado pelos adeptos, capaz de fazer coisas mágicas e imprevisíveis, foi visto em apenas um de cada cinco jogos do Benfica, o que significa que em quatro deles, ou não jogou, ou foi pouco produtivo.
Pode parecer um pouco injusta esta avaliação, até porque o jogador foi bastante martirizado por lesões musculares. Mas os números são o que são, e a verdade é que, se friamente analisados, ficam longe, bem longe, de confirmar um estatuto competitivo correspondente à idolatria que os adeptos lhe foram devotando. Se compararmos estes números com os de Simão, por exemplo, perceber-se-á a diferença entre um jogador absolutamente fundamental, e um bom jogador - sem dúvida -, muito talentoso, capaz de tirar da cartola coelhos de magia, mas longe de uma preponderância significativa no desempenho global da equipa. Se se trata de alguém que ganha um ordenado na casa dos 200 mil euros por mês (e a ser contratado definitivamente pelo Benfica, não viria certamente receber muito menos que isso), a relação custo/benefício torna-se devastadora. Nada me move contra Miccoli. Pelo contrário. Além da sua calorosa simpatia, também delirei algumas vezes na Luz com os seus números de grande qualidade artística. Apreciava sobretudo a sua espontaneidade de remate – tão pouco vista para os lados da Luz nos últimos anos. Particularmente nestes últimos jogos da época (que deixei de fora da análise numérica acima), Miccoli mostrou ser capaz de muitíssimo mais do que fez nos dois anos que passou de águia ao peito.
Todavia, ninguém garante que o Miccoli da(s) próxima(s) épocas fosse aquele que apenas apareceu nesses jogos. Poderia muito bem vir a ser o jogador pesado, aburguesado, individualista e a denotar falta de trabalho de casa (entenda-se treino) que foi na maioria das suas aparições nos relvados portugueses. E esse Miccoli não faz efectivamente muita falta – embora pontualmente pudesse fazer algum jeito - a uma equipa que se quer ganhadora como a do Benfica.
O futebol é um jogo colectivo. Em particular o futebol de alta competição exige um rendimento equilibrado nos planos técnico, táctico e físico. Não direi que trocava vinte Ronaldinhos Gaúchos por um Katsouranis (como disse Fernando Santos), mas também não sou demasiado sensível a malabarismos inconsequentes, e a jogadores cuja irregularidade impede de contar com eles nos momentos mais aflitivos, ainda que a sua habilidade (único aspecto tido em conta por muitos dos adeptos) possa por vezes impressionar pela genialidade.
Noutros clubes e noutros jogos, aprecio os individualismos, os pormenores, as intermitências. No meu, quero sobretudo jogadores ganhadores, de força física e mental à prova de bala, e capazes de interpretar o jogo na sua vertente colectiva. Miccoli, não se enquadra nesse perfil, tendo outras características. Como será o seu substituto ?

2 comentários:

  1. Anónimo6.7.07

    LF

    Estou de acordo com a sua ideia, sobre Miccoli, também não me parecia um jogador indespensável, o Benfica ganhava com ele poder de tiro e rapidez, perdia poder de choque, poder aereo e era um jogador de dias, se estava num dia, sim, fazia maravilhas, se estava num dia não, passava ao lado do jogo, nem se notava a sua presença, e depois tinha o probléma das lesões

    Miccoli foi um jogador, que ganhou a simpatia dos adeptos, porque era bom jogador tinha garra e fazia coisas impensaveis

    Digo sinceramente, que não estou preocupado com a sua saida, penso que o Benfica, vai tirar mais proveito com outro tipo de avançado, mais no estilo de Cardozo, alto e possante para brigar na area, porque acho, que um só avançado com estas caracteristicas é pouco para o Benfica

    Agora quero falar de outro assunto, a saida de Rodolfo Moura, estou contente, porque sempre pensei, que o mal do Dep. Médico do Benfica, era este Sr., não sei se é bom ou mau profissional

    Agora temos de perguntar, como é que os jogadores do Benfica demoravam tanto tempo a ficarem aptos para jogar, depois das suas lesões, como é o caso de Nuno Gomes ( a Médica que o operou, disse que ao fim de 12 dias estava apto a jogar) e Luisão, que nunca mais está em condições fisicas, estando em risco o jogo de apuramento para a Champions

    Gostava de saber o que pensa o LF desta situação ?

    ResponderEliminar
  2. Não comentei essa situação porque não quero correr o risco de ser injusto.
    Há algo ou alguém no departamento médico (ou físico) do Benfica a trabalhar muito mal. Mas não sei quem é ou era. Só quem está lá dentro o saberá.
    Não sei se o problema era Rodolfo Moura ou não, mas não choro uma lágrima que seja pela sua saida, porque era um personagem que também não cativava a minha simpatia.

    O que sei é que o Benfica teve um fisioterapeuta extraordinário, profissional reconhecido por todos como exemplar em entrega e competência, e ainda por cima benfiquista, e dispensou-o .
    Falo de António Gaspar.

    Já agora, também o Dr Vasconcelos esteve no Benfica durante muitos anos e nunca houve qualquer problema. Quando começaram a surgir estas situações foi uma das primeiras cabeças a rolar.
    Como se percebeu esta temporada, a culpa não era seguramente dele.

    ResponderEliminar